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    Editorial: As armas de Marta

    14/01/2015 02h00

    Para recorrer a uma expressão das colunas sociais, a ex-ministra e senadora Marta Suplicy (PT-SP) está "causando" –e não é de agora.

    Veio, primeiro, a carta na qual, deixando o Ministério da Cultura, Marta recomendou à presidente Dilma Rousseff (PT) que resgatasse a credibilidade do governo.

    Em seguida, suas críticas se voltaram para um escalão abaixo. Ao receber a notícia de que a pasta voltaria a ser ocupada por um de seus antecessores no cargo, Juca Ferreira, a inquieta líder do petismo paulista denunciou o que chamou de desmandos na área.

    O terceiro momento veio com suas declarações ao jornal "O Estado de S. Paulo", no domingo (11). Não se tratava mais de atacar apenas Dilma ou Juca, mas quase tudo no petismo. Restou preservada, naturalmente, a figura do ex-presidente Lula, cuja candidatura já no ano passado tinha em Marta uma adepta especialmente combativa.

    Passando por Aloizio Mercadante, atual chefe do gabinete civil, e Rui Falcão, presidente do partido, as armas da senadora miraram o próprio PT. A agremiação estaria com seu futuro ameaçado: "ou muda, ou acaba", sentenciou, não sem antes expandir-se sobre a profundidade de sua decepção.

    "Cada vez que abro um jornal", declarou, "fico mais estarrecida com os desmandos do que no dia anterior. É esse o partido que ajudei a criar e fundar?"

    A pergunta soa pertinente quando se pensa no período em que o PT se apresentava como defensor de uma nova maneira, mais ética e republicana, de fazer política. Em outros tempos, talvez a legenda se sentisse constrangida pelas declarações da senadora e, quem sabe, compelida a debater os problemas internos –e é sintomático que agora simplesmente silencie.

    Outra pergunta, porém, impõe-se quando se toma conhecimento das indignações da ex-prefeita de São Paulo (2001-2004). Se muitos desmandos agora a estarrecem a cada vez que abre um jornal, seria o caso de indagar por quanto tempo ficou sem ler a imprensa brasileira e quando voltou a fazê-lo.

    Não a teriam estarrecido as revelações do mensalão? Ou os "desmandos" de um Antonio Palocci? Terá sido José Dirceu, na Casa Civil, figura mais benfazeja e maleável do que Mercadante, em quem Marta vê arrogância e autoritarismo?

    Por fim, estariam a mudança no PT e o fim de uma série de abusos –na Petrobras, no Ministério da Cultura ou onde quer que seja– vinculados à volta de Lula ao centro do poder, substituindo Dilma?

    Nada indica que possa ser assim. Ainda que corretas, as críticas obedecem a uma cronologia própria. Alijada de espaço em sua legenda, buscando candidatar-se novamente à prefeitura paulistana, Marta Suplicy produz sua incompatibilidade com o PT, sem abrir mão do lulismo que lhe possa convir.

    Tudo seria mais convincente e efetivo se fosse menos eleitoreiro.

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