• Opinião

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    Editorial: Longo caminho

    26/01/2015 02h00

    São péssimos os resultados das contas externas brasileiras em 2014. Apesar da desvalorização do real, que encarece produtos importados e aumenta a rentabilidade das exportações, fica claro que levará muito tempo para a indústria nacional restaurar competitividade e vislumbrar maior participação no mercado internacional.

    O Brasil encerrou o ano com deficit de US$ 90,9 bilhões (4,2% do PIB), cifra que agrega as transações de bens e serviços com os demais países. Trata-se de buraco ainda maior que o de 2013 (US$ 81,1 bilhões), algo surpreendente: imaginava-se que o baixo crescimento interno ajudaria a conter importações e outras despesas.

    Mas o Brasil tem pouco a oferecer além de matérias-primas, cujos preços estão em queda. O valor exportado encolheu 7%, para US$ 225 bilhões, mais que compensando a redução nas importações provocada pela letargia econômica.

    Tome-se o caso do minério de ferro. Com a diminuição da demanda chinesa, as vendas caíram de US$ 32,4 bilhões para US$ 25,8 bilhões. O preço médio da tonelada ficou próximo a US$ 90, mas terminou o ano abaixo de US$ 70.

    Nas contas de serviços, cresceram as despesas com itens importantes, como as remessas de lucros e dividendos e o aluguel de equipamentos. Houve estabilização apenas nos gastos com juros, graças às taxas globais ainda reduzidas.

    Com o saldo no vermelho, o país, como qualquer pessoa, precisa obter financiamento, principalmente por meio de investimentos diretos e aplicações financeiras em renda fixa ou na Bolsa de Valores.

    Não deixa de ser boa notícia, assim, que o volume de investimentos produtivos tenha permanecido elevado, em nível similar ao dos últimos anos. Aumentou, porém, a dependência de capitais de prazo mais curto, o que preocupa.

    A dificuldade em reduzir o deficit mostra que a desvalorização do real, embora importante, não é uma panaceia. Após duas décadas de câmbio valorizado, desmontaram-se as cadeias de produção de inúmeros bens manufaturados.

    A reversão desse movimento tomará anos, não meses, e demandará uma agenda que combine redução de custos, simplificação tributária, abertura da economia e acordos comerciais com países de peso.

    A política econômica deve se alinhar a tais objetivos, o que não ocorreu nos últimos anos. Controlar a despesa do governo de forma persistente levará a juros mais baixos, o que por sua vez reduzirá a atração de capital especulativo, historicamente a principal força para a sobrevalorização cambial que tanto mal fez à indústria.

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