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    Editorial: Deslizamento na saúde

    26/01/2015 02h00

    Não chega a ser algo louvável do ponto de vista da administração pública, mas a gestão de Fernando Haddad (PT) tem demonstrado inusitado talento para tentar se esquivar de críticas relativas ao descumprimento de metas.

    O exemplo mais notável foi dado pelo próprio prefeito de São Paulo. Em entrevista a esta Folha em dezembro, Haddad lembrava, não sem alguma razão, que seus planos haviam sido atrapalhados pelas restrições financeiras da cidade.

    Por causa do bloqueio da Justiça ao aumento do IPTU e do congelamento das tarifas de ônibus, os cofres municipais deixaram de receber esperados R$ 2,5 bilhões.

    Com esses dados em mente, o petista lançou sua pérola: "Coloca em risco o planejamento? Efetivamente, não, porque continua sendo feito. O que você faz é deslizar o planejamento para a frente".

    Será difícil explicar nos mesmos termos, contudo, as ações da prefeitura na área da saúde. É que o programa de metas da atual gestão lista, entre os objetivos principais, a proposta de reduzir o tempo de espera na rede municipal, mas não há referências a um prazo que possa ser considerado aceitável.

    Para piorar, informações sobre as filas não são atualizadas com frequência. Os últimos dados disponíveis, de julho passado, indicavam espera de 205 dias para consultas e 124 dias para exames.

    O atendimento tem melhorado ou piorado? Ninguém sabe com certeza. Sabe-se, contudo, que esses prazos são inaceitáveis. Na rede particular, determina-se que a espera não passe de 14 dias para consultas e dez dias para exames.

    Diante desse quadro lastimável, o que faz a prefeitura? Lança nova meta. A demora no atendimento será de no máximo 60 dias –um objetivo a ser atingido até 2017.
    Em relação ao planejamento anterior, as metas estariam sendo deslizadas para trás? Para o lado?

    Outros planos, em compensação, deslizaram muito pouco, quase sem sair do lugar. Das 32 unidades da Rede Hora Certa anunciadas, dez estão concluídas; as Unidades Básicas de Saúde, para atenção primária, seriam 43 (número depois ampliado para 65), mas apenas quatro foram entregues.

    Enquanto isso, na internet, a página da Secretaria Municipal da Saúde trazia a seguinte notícia: "População se prepara para a chegada de 13 novas Unidades de Pronto Atendimento". O cidadão que lesse mais que o título, entretanto, veria que as obras ainda não começaram e devem ser concluídas dentro de 12 meses, no mínimo.

    Se a população de fato já se prepara para essas 13 unidades, precisará passar pelo menos um ano deslizando suas expectativas.

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