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    Fernando Luiz Zancan: A dicotomia errada

    28/01/2015 02h00

    A COP 20 –Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas realizada em dezembro de 2014 em Lima, Peru– demonstrou a dificuldade, em escala global, de balancearmos o desenvolvimento e as mudanças climáticas. Estamos há mais de vinte anos discutindo um acordo climático vinculante e não conseguimos. É o desafio que teremos no ano de 2015 para fechar algum acordo em Paris.

    Qualquer acordo que não permita que os países pobres e em desenvolvimento possam crescer e reduzir a miséria não terá o apoio destes. Os países devem ter o direito a usar os seus energéticos de forma a equilibrar o meio ambiente com o desenvolvimento.

    O papel do carvão no desenvolvimento das sociedades em crescimento é uma das razões de ter sido o combustível que mais cresceu no século 21 alcançando o seu maior nível –30,1 % na matriz mundial de energia, o nível mais alto desde 1970.

    Com 1,3 bilhões de pessoas sem energia elétrica o mundo precisará de todas as formas de energia disponíveis, principalmente as mais baratas, onde o carvão reina sendo 40% da energia elétrica mundial.

    A chave para integrar o desenvolvimento e as mudanças climáticas é a tecnologia. O aumento de eficiência das plantas de 33% para 40 % deverá reduzir a emissão de duas gigatoneladas de CO2 anualmente no mundo. Para isto basta criar programas de modernização do parque de usinas térmicas, algo que a China e Alemanha estão fazendo.

    Por outro lado as tecnologias de captura, uso e armazenamento de CO2, estão disponíveis mas precisam de ganhar escala para reduzir o custo como foi feito com as energias eólica e fotovoltaica. O maior exemplo disso é o Projeto Boundary Dam no Canadá, onde uma usina térmica a carvão de 110 MW, está operando desde outubro de 2014 capturando 90% do CO2.

    Todas as tecnologias de baixo carbono devem ser usadas para atender as metas de redução de emissões. Não atingiremos nossa demanda energética, a redução da miséria e a redução das emissões sem usar todas as tecnologias que estejam disponíveis.

    Não devemos demonizar os combustíveis fósseis e nem tentar impedir o seu uso, por conta dos possíveis impactos nas mudanças climáticas. Precisaremos de todas as energias e as renováveis, sozinhas, não fornecem a garantia da segurança energética e nem energia a baixo custo. Devemos, ainda, viabilizar as tecnologias que reduzam as emissões e que sejam de baixo carbono.

    A dicotomia fósseis/renováveis está errada e serve somente aos "lobbies" de segmentos industriais e à indústria do CO2. A taxação e o mercado de carbono servem para o mercado financeiro.

    Portanto se somos sérios a respeito das mudanças climáticas, sem artificialismos econômicos, deveremos buscar a participação de todas as fontes energéticas, visando chegar a um mundo de baixo carbono no menor prazo de tempo possível.

    FERNANDO LUIZ ZANCAN, 57, engenheiro, é presidente da Associação Brasileira de Carvão Mineral

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