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    Uirá Machado: Prezado Geraldo

    07/02/2015 02h00

    Espero que não seja rude de minha parte chamá-lo pelo prenome, mas o senhor está há tanto tempo no governo que me dispenso da formalidade.

    Sabe que só há pouco me dei conta de que, ao final de seu mandato (o quarto!), seu partido terá permanecido à frente de São Paulo por 24 anos consecutivos? Um recorde nacional, e logo no Estado mais rico e populoso do país.

    O feito é ainda mais digno de nota porque, na maior parte do tempo, o Palácio dos Bandeirantes terá sido comandado pelo senhor. De 2001 a 2006, de 2011 a 2018: impressionantes 13 anos, recorde estadual.

    Aliás, o senhor praticamente não saiu da administração paulista desde que nela entrou, em 1995, como vice de Mário Covas (1930-2001). Em duas décadas, só se ausentou por cerca de três anos.

    Se considerarmos a fase anterior, desde a vereança na sua Pindamonhagaba, lá se vão mais de quatro décadas completas de vida pública.

    Não há como negar, Geraldo, que o senhor é um político experimentado. Conhece como poucos as peculiaridades do Estado de São Paulo.

    Por isso não entendo: por que deixou a situação chegar a este ponto? O senhor realmente achou que seria (nem digo prudente) defensável entregar a sorte dos paulistas aos cuidados de são Pedro?

    Muito se disse sobre a oferta de água em São Paulo, que nunca foi das melhores. Sobre o nível das represas, baixíssimo já em janeiro de 2014. Sobre o regime de chuvas, desfavorável como nunca.

    Veja que não quero polemizar sobre o sistema de abastecimento. Seria contraproducente, neste momento, debater se faltam reservatórios. Tampouco discuto o caráter da seca. Não há registro de outro período em que os céus tenham sido tão cruéis.

    Com o perdão do trocadilho, essas são águas passadas; quanto a elas, nada que o senhor fizesse nos últimos 12 meses melhoraria o quadro atual.

    Mas o que dizer das atitudes esperadas de um líder –de um governante– diante de uma crise? O senhor acha que tomou as atitudes que deveria? Ou terá faltado um esforço de comunicação à altura do desafio, assim como a adoção de medidas, impopulares ou não, com antecedência maior?

    Tenho para mim que, no fundo do seu coração, o senhor sabe que errou. Sabe que jamais poderia ter penhorado a água para garantir a eleição.

    Agora, já ocorreu ao senhor que talvez sua vitória pudesse ter vindo sem esse preço? Será que nossa democracia não está madura a ponto de saber recompensar verdadeiros estadistas, com coragem para enfrentar desafios sem precisar consultar um marqueteiro?

    O senhor e seu séquito certamente se preocupam com seu futuro político. Leve isso em conta, Geraldo. Ainda há tempo para mudar, e quem sabe até pedir desculpas.

    Cordialmente,


    UIRÁ MACHADO, editor de "Opinião"

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