• Opinião

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    Gitânio Fortes: Sem folia

    16/02/2015 02h00

    Passada a sua primeira semana na presidência da Petrobras, Aldemir Bendine bem que poderia ter ganhado uma trégua neste Carnaval. A pauta de problemas, porém, não parou de crescer.

    Reportagem da Sucursal do Rio desta Folha mostrou que o acidente no navio-plataforma na costa do Espírito Santo não foi um fato isolado.

    Segundo a Agência Nacional do Petróleo a ocorrência de explosões e incêndios passou de 2 em 2008 para 65 em 2013, o dado mais recente. Como a Petrobras responde por ao menos 85% da produção da commodity no país, pode-se inferir o tamanho da encrenca para a companhia.

    Petroleiros atribuem o aumento dessa estatística sombria ao "elevado nível de degradação das plataformas no mar, sem correspondente manutenção", algo corroborado por vistoria do Ministério Público do Trabalho em seis plataformas, revelada em 2014.

    Rotas de fuga mal delineadas, ferrugem acentuada, jornadas excessivas de alguns funcionários, descontrole sobre emissão de gases e despejo de dejetos sem tratamento no mar se somam a um controle de manutenção deficiente, segundo o MPT.

    Deixar a manutenção em segundo plano implica um risco e tanto. Esticar o laço para obter mais barris funciona até o ponto em que todo o suposto lucro se reverte em prejuízo pelos dias parados compulsoriamente após um incidente. Pior quando há mortes. Nenhum seguro cobre essa perda.

    A segurança nas unidades de produção vem acompanhada de uma série de questões que exigem muita atenção de Bendine e de sua equipe.

    No plano macro, qual reação cabe à Petrobras diante do cabo de guerra entre os EUA, cada vez mais produtivo com seu petróleo de xisto, e os países ligados ao cartel da Opep? Cada lado testando a competitividade alheia é fator de baixa para o preço do barril.

    No capítulo gestão, como alinhar o plano de negócios da empresa nesse cenário incerto? O investimento no pré-sal se defende sem uma retomada das cotações da commodity? Quais as alternativas para o endividamento agravado pela disparada do dólar? Que política será implantada contra a sangria da corrupção? Como esses desvios vão aparecer no balanço da companhia?

    No item relacionamentos, como agir diante das ingerências do principal controlador, representado pela presidente Dilma? Como vencer as resistências internas na Petrobras, explicitadas até no conselho de administração, que referendou Bendine como presidente-executivo da empresa sem unanimidade? Como restaurar a confiança dos investidores no país e no exterior?

    A lista de dificuldades é longa, vem de muito tempo, não começou na semana passada. Até por isso há urgência. Bendine, bom fim de Carnaval.


    GITÂNIO FORTES é redator especial da Primeira Página

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