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    Eduardo Paes: Parabéns, Rio

    01/03/2015 02h00

    Faz 450 anos que Estácio de Sá fundou aos pés do morro Cara de Cão a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Uma senhora acolhedora e de beleza irretocável, que combina a energia vibrante de uma adolescente festeira e a experiência de quem acumula quase meio milênio como uma das cidades mais importantes do hemisfério Sul.

    É capaz de encantar em todos os seus cantos. Além do fascínio natural da mistura perfeita entre mar e montanha, o Rio seduz com outros atributos: a prosa fácil nas calçadas do subúrbio, o batuque das rodas de samba de Oswaldo Cruz e Madureira, o futebol-arte dos clássicos do Maracanã ou das peladas na favela, os encontros nos múltiplos botequins e esquinas, a alegria e irreverência de um povo que faz qualquer um se sentir em casa. Na verdade, os cariocas, de origem ou coração, são o que a cidade melhor produz há quatro séculos e meio.

    Desde 1565, o Rio já foi muitos e se prepara para ser mais: capital da Colônia, sede do reino português, capital do Império, capital da República, cidade-Estado, Cidade Global, Cidade Olímpica, Cidade Maravilhosa. A transição entre os muitos papéis nem sempre foi fácil, chegando a gerar ressentimentos.

    A transferência da capital federal para Brasília em 1960 levou o Rio a uma crise de identidade. Sem receber nada em troca, deixou de ser centro do poder e das decisões políticas no Brasil. Lamentando um passado que não voltaria, a cidade parou de seguir em frente e mergulhou num período de degradação.

    Nos últimos anos, porém, as lamúrias deram lugar à transformação. E se, aos 450 anos, o Rio já não é mais capital política do Brasil, passou a ser o centro dos principais eventos e debates do planeta.

    Protagonista da Copa do Mundo, sede dos primeiros Jogos Olímpicos da América do Sul, patrimônio da humanidade, referência internacional como "smart city", dona dos maiores graus de investimento do país pelas agências de rating, líder da C40, a rede de metrópoles na luta contra as mudanças climáticas.

    O ciclo virtuoso não veio por acaso. Foi preciso que o Rio encarasse seus problemas em vez de fugir de si mesmo. Além de se modernizar, foi necessário redescobrir o passado, recuperar a história, valorizar seus subúrbios, suas áreas centrais.

    A região portuária, onde a cidade nasceu, passa por um processo de revitalização. O porto, aquele pedaço esquecido que, muito antes do Cristo Redentor, abria os braços para receber os nossos primeiros visitantes, renasce.
    A zona norte, onde se cunhou a identidade carioca, ganha mais infraestrutura e autoestima. A zona oeste conecta-se ao resto da cidade com transporte de alta capacidade e serviços públicos. As favelas recebem urbanização e as diferenças entre morro e asfalto diminuem.

    Os problemas ainda são muitos e exigem respostas cada vez mais eficazes. Os principais desafios, porém, estão endereçados. Algumas soluções não são imediatas, mas as políticas públicas em andamento apontam para um futuro melhor.

    Entre 2009 e 2016, o município terá investido R$ 37 bilhões em infraestrutura, mobilidade, saúde, educação. Desde 2008, as forças estaduais de pacificação têm libertado comunidades do domínio de criminosos e, apesar das dificuldades, renovado a esperança de quem vive dentro e fora das favelas.

    Mais integrada, menos desigual. Na festa de 450 anos, desejo para essa senhora irresistível, que já foi tantas, que se torne uma só. Um mesmo Rio para todos os cidadãos, cada vez menos dividido e mais misturado. A expressão máxima da carioquice: um Rio de todos e para todos.

    EDUARDO PAES, 45, é prefeito do Rio (PMDB)

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