• Opinião

    Thursday, 02-May-2024 14:30:08 -03

    Editorial: Produzir melhor

    04/03/2015 02h00

    O péssimo desempenho da produção industrial e das vendas externas de produtos manufaturados atestam que persiste o problema de competitividade do país, mesmo depois da expressiva desvalorização do real em relação ao dólar desde meados de 2011.

    O quadro desalentador decorre da combinação de baixo crescimento da produtividade com aumento de custos nos últimos anos.

    Estudo recente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que o Brasil teve expansão de mero 0,6% ao ano na produtividade industrial de 2002 a 2012, ritmo pífio que decerto ainda se mantém.

    Trata-se do pior desempenho entre os 12 países considerados na pesquisa. Coreia do Sul e Taiwan experimentaram alta anual acima de 6%, enquanto EUA e a maior parte das nações europeias observaram elevação superior a 2%.

    De outro lado, disparou o custo interno medido em dólares –métrica útil para comparação entre países. De 2002 a 2007, com a valorização de quase 50% do real, diminuiu a rentabilidade das exportações, e o mercado doméstico ficou exposto a produtos importados. Nesse período, os salários praticamente não cresceram.

    Nos cinco anos finais do levantamento, o quadro se inverte. A moeda brasileira permaneceu estável, enquanto os custos de mão de obra avançaram 25%.

    Como resultado, o chamado custo unitário do trabalho (quanto custa uma unidade produzida por trabalhador em dólares) cresceu 9% ao ano no período. O segundo colocado da amostra, a Austrália, teve alta de 5,3%. Outros países, como EUA e Coreia, tiveram redução nesse item –a produtividade subiu bem mais que os custos.

    O aumento de salários, em si, é positivo, pois gera renda e consumo no mercado interno. Quando há uma valorização persistentemente superior à da produtividade, entretanto, a elevação da renda aquece a inflação. Esta, por sua vez, corrói os salários, fenômeno em curso no Brasil.

    Não será fácil reverter as tendências dos últimos anos e impulsionar a indústria. Tal dificuldade, aliás, permeia toda a economia; a produtividade não deslancha a ponto de reduzir a diferença com os países que estão na fronteira tecnológica. Um trabalhador brasileiro continua a produzir cerca de 20% de seu par norte-americano.

    Na situação demográfica que se avizinha, quando haverá menor afluxo de trabalhadores no mercado, o crescimento brasileiro dependerá cada vez mais do aumento da produtividade.

    Será preciso investir para melhorar o estoque de máquinas e equipamentos e, sobretudo, equipar a mão de obra para produzir mais e melhor. O desafio brasileiro, mais do que nunca, está na educação.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024