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    Editorial: Campanha transatlântica

    05/03/2015 02h00

    Em condições normais, o líder de um país a que não faltam inimigos evitaria visitar seu principal aliado a fim de criticar sua política externa. Foi, contudo, o que fez Binyamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, ao discursar, no Congresso americano, contra as negociações nucleares entre EUA e Irã.

    O gesto se explica por uma conjunção de circunstâncias especiais. Netanyahu está em campanha. Enfrenta eleições no próximo dia 17, e seu partido aparece nas pesquisas um pouco atrás da aliança de centro-esquerda União Sionista. Falar duro no Capitólio reforça sua principal bandeira eleitoral: promover a segurança do Estado judeu.

    Do lado americano, o convite partiu do presidente da Câmara, o republicano John Boehner, que procurava esvaziar uma iniciativa importante da política externa do democrata Barack Obama. É difícil afirmar que a estratégia tenha dado certo, já que a atitude terminou criticada mesmo por comentaristas conservadores.

    Nada faz supor, em todo caso, que a manobra agressiva de Netanyahu venha a fragilizar os laços entre EUA e Israel.

    No plano concreto, o discurso de Netanyahu pouco convenceu. Compreende-se que Israel tema um Irã com capacidade nuclear. Tel Aviv, afinal, está ao alcance dos mísseis persas e é o alvo mais verossímil caso o regime dos aiatolás resolva iniciar uma guerra. Mas não se pode fazer política com base somente no medo.

    Teerã já detém o conhecimento e os meios tecnológicos necessários para fabricar a bomba. Aparentemente, falta-lhe apenas tempo.

    Nesse cenário, há dois caminhos. O da negociação, para assegurar que Teerã esteja sempre a pelo menos um ano de distância do artefato, ou o do enfrentamento, com vistas a reduzir a capacidade nuclear que os iranianos hoje possuem.

    A segunda opção, que até a cúpula militar israelense vê com restrições (um ataque teria altíssimo custo político e baixa eficácia), é quase impensável do ponto de vista dos EUA. Abrir nova frente bélica no Oriente Médio definitivamente não está nos planos de Obama.

    Assim, a atitude mais sábia é negociar, trocando limitações verificáveis no programa atômico pelo relaxamento de algumas sanções.

    Como o presidente Barack Obama aprendeu na Síria, não convém fazer ameaças que o inimigo sabe que não serão cumpridas.

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