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    André Luís Woloszyn: Terrorismo islâmico reconfigura a governança global

    06/03/2015 02h00

    As atrocidades que vem sendo cometidas por grupos terroristas como o EILL (Exército Islâmico do Iraque e do Levante) na Síria e no Iraque, o Boko Haram que aterroriza a Nigéria e o Talibã, com atuação no Paquistão e Afeganistão, perpassam a compreensão ocidental sobre valorização humana ou mesmo sobre a preservação da vida.

    A ideologia extremista, ligada uma interpretação religiosa distorcida dos mandamentos islâmicos do Corão é tão intensa e internalizada nestes grupos que torna-se impossível qualquer diálogo reconciliador.

    O maior paradoxo, na tentativa de enfrentá-los belicamente, é de que, de um lado, estão pessoas que embora estejam envolvidas em operações militares de alto risco, tem receio de perderem a vida. Enquanto do outro, existem pessoas dispostas a se tornarem mártires da causa que professam.

    Este parece ser o fator fundamental para tantos insucessos, a mais de uma década, na tentativa de reduzir sua impetuosidade, embora o emprego das mais avançadas tecnologias tenham sido empregadas.

    Pela conjuntura atual, podemos afirmar, que ao contrário do que se supunha, as operações militares serviram apenas para fomentar o surgimento de novos combatentes extremistas com táticas mais avançadas do que as empregadas pela rede Al Qaeda.

    Uma destas táticas, é o recrutamento disseminado de combatentes ocidentais em massivas campanhas de marketing na web para lutarem na Síria, e que, ao retornarem a seus países de origem, são potencialmente uma ameaça para a perpetuação de novos atentados.

    Vale destacar que ao contrário da percepção comum de que seus integrantes são pessoas sem instrução ou especialidade, as lideranças terroristas vem demonstrando possuírem conhecimentos estratégicos e táticos similares aos dos comandantes das forças regulares. Caso contrário, o quadro seria outro.

    É importante dizer, que o contexto atual, aponta para um aumento das atividades terroristas desta natureza, já ocorridas na Austrália e recentemente na França, e trazem importantes reflexos para as sociedades ocidentais.

    Um destes reflexos, se fará sentir por todos, que é o recrudescimento da vigilância, monitoramento e controle dos cidadãos por novas tecnologias, o que atinge diretamente a privacidade e a intimidade das pessoas.

    Outro real impacto, é o fomento global a xenofobia e discriminação em relação às comunidades muçulmanas, tidas como simpatizantes ou apoiadoras do terrorismo extremista.

    No plano da governança global, o terrorismo islâmico vem, de forma lenta, porém gradual, reconfigurando as políticas governamentais no que tange a adoção de ações e medidas de contraterrorismo que afetam a liberdade dos cidadãos, um dos principais valores das democracias.

    Podemos dizer, por enquanto, que tais grupos tem atingido plenamente um de seus principais objetivos, que além de produzir vítimas, é alcançado com o sentimento generalizado de insegurança e intranquilidade nas populações de diversos países.

    ANDRÉ LUÍS WOLOSZYN é especialista em contraterrorismo e analista de assuntos estratégicos, diplomado pela Escola Superior de Guerra

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