• Opinião

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    Editorial: Vitória intransigente

    19/03/2015 02h00

    Contrariando as últimas pesquisas de intenção de voto, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, saiu-se vitorioso nas eleições gerais de terça-feira (17). Seu partido, o direitista Likud, obteve 30 das 120 cadeiras do Parlamento, contra 24 da União Sionista, a aliança de centro-esquerda.

    No cenário mais provável, Netanyahu conseguirá costurar uma coalizão com agremiações de direita e religiosas, assegurando para si o terceiro mandato consecutivo (houve ainda uma passagem pelo governo nos anos 1990).

    Não terá sido sem dificuldades. Até sexta-feira (13), os principais institutos apontavam de quatro a cinco cadeiras de vantagem para a União Sionista. Netanyahu não hesitou em jogar pesado.

    Afirmou que, se seu partido vencesse, jamais permitiria a criação de um Estado palestino. Com tal declaração, repudia a posição que vinha defendendo desde 2009, bem como uma série de compromissos internacionais acordados por Israel. O gesto, porém, parece ter sido eficaz para mobilizar o eleitor de direita que não estava muito convicto de reeleger o premiê.

    Não bastasse isso, Netanyahu recorreu à cartada racial. Divulgou, por meio das redes sociais, um vídeo em que dizia: "O governo de direita está em perigo. Eleitores árabes estão acorrendo em grandes quantidades às seções eleitorais".

    Esses lances polêmicos se somaram a outros, como a declaração de que havia um complô internacional, orquestrado por países escandinavos, para apeá-lo do poder, e a viagem aos EUA, quando foi ao Congresso para criticar as negociações nucleares que o presidente Barack Obama conduz com o Irã.

    Seria exagero classificar a campanha de Netanyahu de estelionato eleitoral –é quase certo que cumprirá a promessa de bloquear a criação de um Estado palestino–, mas não há dúvida de que extrapolou.

    Sua guinada à extrema direita contribui para acirrar as divisões na polarizada sociedade israelense e isolar ainda mais o país no plano internacional, inclusive distanciando-o dos EUA, seu mais próximo –para não dizer único– aliado.

    O processo de paz com os palestinos, que já caminhava mal, sofre novo baque. Seria precipitado, porém, descartar a hipótese de haver um acordo futuro; Netanyahu disse o que disse sobretudo por oportunismo eleitoral. No poder, tenderá a ser mais pragmático.

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