• Opinião

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    Editorial: Audácias do PMDB

    26/03/2015 02h00

    Conceitos muito distantes entre si na experiência cotidiana, moralidade e esperteza, correção e oportunismo, ética e chantagem nunca tiveram limites claramente definidos na atividade parlamentar.

    Ainda assim, o modo com que se manipulam os termos do debate sobre austeridade pública e ajuste econômico tem levado o Congresso a registrar nos últimos tempos extremos de paradoxo e ironia.

    É dessa forma que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), vem a público para apoiar a tese da redução do número de ministérios no governo. "Se aplaudimos recentemente o Mais Médicos", disse na terça-feira (24), "está na hora do programa Menos Ministérios, 20 no máximo".

    Não há dúvida de que cortar pastas no governo federal (são 39) pode representar, do ponto de vista simbólico, disposição para eliminar desperdícios na máquina pública.

    Mais que isso, o Planalto estaria em tese limitando sua classicamente elástica margem de acomodação partidária e pessoal de que faz uso sem nenhum compromisso com resultados administrativos.

    É irônico, mas não ilógico, que a exigência de diminuição dos ministérios venha do PMDB. Apresentada em proposta de emenda constitucional pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a ideia foi adotada em tempo recorde por Renan.

    Sintonizados, os dois peemedebistas superam a entrevada dupla PSDB-DEM na velocidade com que absorvem parte das reivindicações expressas nos protestos deste mês.

    O gesto, evidentemente, não adquire sequer a aparência de algo desinteressado e cívico. Uma redução dos ministérios, na ótica do confesso oportunismo que rege a política nacional, dificilmente significaria mais do que diminuir o espaço relativo das agremiações rivais.

    Se não for assim, o PMDB poderia iniciar sua adaptação aos tempos de austeridade desistindo dos gabinetes que ocupa. São sete, incluindo o de Portos, o de Aviação Civil e o da Pesca –ponderáveis candidatos à inexistência.

    Não por acaso, a iniciativa se esclarece e se completa com a encarniçada resistência que o PMDB apresenta diante do intuito do ex-prefeito de São Paulo e atual ministro das Cidades, Gilberto Kassab (PSD), de oficializar um novo partido de apoio ao governo.

    Ocuparia, talvez, o lugar da fisiologia pura e simples, que o PMDB faz agora menção de abandonar.

    Para que cumprisse a vocação que esboça –a de se tornar uma legenda conservadora de raízes regionais e religiosas, ao estilo dos republicanos dos Estados Unidos–, a agremiação de Renan e Cunha teria de abandonar, entretanto, outros lugares que lhe foram reservados no Executivo. Destes, obviamente, não abre mão.

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