• Opinião

    Tuesday, 07-May-2024 19:40:44 -03

    Editorial: A guerra fria do islã

    27/03/2015 02h00

    Na sexta-feira passada (20), três atentados brutais contra mesquitas xiitas em Sanaa, capital do Iêmen, mataram 137 pessoas e deixaram centenas de feridos.

    Os ataques, reivindicados por extremistas da facção sunita Estado Islâmico, formavam o capítulo mais recente de um conflito milenar entre seguidores do xiismo (identificados com o Irã) e do sunismo (próximos da Arábia Saudita).

    Reunindo hoje cerca de 15% e 85% dos muçulmanos, respectivamente, as duas vertentes do islã surgiram na esteira das disputas pela sucessão do profeta Maomé, morto no ano de 632.

    A rivalidade religiosa provocou, ao longo dos séculos, inúmeros choques entre as correntes. Nas últimas décadas, todavia, manteve-se sob controle na maior parte do chamado mundo árabe, devido sobretudo à repressão exercida por governos autoritários.

    A situação mudou com a irrupção da Primavera Árabe, no final de 2010. A partir de então, Iraque, Síria, Líbano, Bahrein e Iêmen viram-se afetados pelas disputas entre os dois ramos do islã.

    As novas frentes de combate logo foram incorporadas ao tabuleiro em que o Reino da Arábia Saudita e a República Islâmica do Irã competem pela supremacia regional.

    Donos dos mais extensos territórios do Oriente Médio e figurando entre os maiores exportadores de petróleo do mundo, os dois países se separam não só pela questão religiosa mas também pelas conexões internacionais. Enquanto os sauditas mantêm laços estratégicos com os Estados Unidos, os iranianos são aliados da Rússia.

    O enfrentamento, que remonta à década de 1980, intensificou-se nos últimos anos e passou a interferir em um número cada vez maior de vizinhos –entre os quais está o Iêmen, à beira de uma guerra civil.

    Fragmentado entre tribos e convivendo com um braço da rede terrorista Al Qaeda, o Iêmen sofre com o avanço da milícia xiita houthi, que tomou à força o noroeste do país, incluindo a capital. Acredita-se que os insurgentes, ligados ao ex-ditador Ali Saleh (deposto em 2012), tenham o respaldo do Irã.

    A Arábia Saudita, que vinha apoiando a mudança de regime no país vizinho, organizou uma coalização militar para deter o avanço dos rebeldes; os ataques aéreos começaram nesta quarta-feira (25).

    A transição no Iêmen já se mostrava intrincada, mas as perspectivas se tornaram ainda mais nebulosas. Se o conflito interno ameaça a transição do autoritarismo para a democracia no país, a participação de atores externos deixa no ar o risco de uma guerra regional.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024