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    Editorial: Girando em círculos

    01/04/2015 02h00

    A história, com outros personagens, é bastante conhecida.

    Passado seu período de glória –quando sustentava, com servilismo abjeto, o regime militar–, a chamada Aliança Renovadora Nacional, a Arena, viu-se constrangida a mudar de nome. Surgiu o PDS (Partido Democrático Social) e, depois, o PP (Partido Progressista).

    Não é outra a crônica da dissidência do arenismo, o PFL (Partido da Frente Liberal). Identificado com os setores oligárquicos que vicejavam à sombra do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), buscou uma espécie de "aggiornamento" de fachada. Tornou-se o DEM (Democratas), que vacila entre a extinção e a insignificância.

    É outra, por certo, a mística do PT, bem como sua abrangência no território nacional. Não muda a história, entretanto, no que tange ao desgaste de uma sigla cada vez mais identificada com casos de corrupção e escândalos semelhantes (ou bem maiores) aos que, tempos atrás, denunciava sem descanso.

    Vê-se com ironia, mas sem surpresa, a proposta de algumas lideranças do partido para esquivar-se do estigma que o contamina. A cúpula petista cogita criar uma "frente ampla" que congregaria sindicatos, associações, ONGs e outros partidos em torno da agremiação, modelo bem-sucedido no Uruguai.

    O presidente do partido, Rui Falcão, nega a intenção de encobrir a legenda sob o manto de outras organizações. Mas afirma ver com simpatia a ideia de que se crie um movimento mais amplo, "no bojo da reforma política".

    Num paradoxo, porém, ao fim do mesmo encontro em que se aventava a ideia da frente ampla, afirmações mais enfáticas vieram a público, num manifesto assinado pelos 27 presidentes regionais do PT.

    "Condenam-nos não por nossos erros", sustentam os líderes petistas, "que certamente ocorrem numa organização que reúne milhares de filiados." Mensalão, desvios na Petrobras, fisiologismo, inconformidade com a imprensa livre? Nada disso, imaginam os signatários.

    "Perseguem-nos pelas nossas virtudes", diz o manifesto –que propõe, entretanto, reatar com setores sociais "inicialmente representados em nossas instâncias e hoje alheios, indiferentes ou, até, hostis em virtude de alguns erros."

    Faz-se, então, a mágica. Erros "de alguns filiados" levam ao distanciamento dos movimentos sociais; a reaproximação se faz numa "frente ampla", sem destaque para um PT cujas virtudes, todavia, não só são indiscutíveis como precisam ser relembradas.

    O PT se esconde de si mesmo, sem deixar de ser o que é –e gira em círculos, pateticamente.

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