• Opinião

    Saturday, 06-Jul-2024 03:24:08 -03

    Luiz M. Franca-Neto: Convocando todos os talentos da nação

    05/04/2015 02h00

    Em 1589, o inventor William Lee convenceu a rainha Elizabeth 1ª a conhecer sua mais nova criação, uma máquina de tricô. Anos antes, a rainha havia determinado que seu povo deveria sempre usar chapéus de tricô. Lee esperava receber uma carta de patente. A realeza, entretanto, recusou o pedido, sugerindo que Lee pensasse nas consequências terríveis de sua invenção para o emprego de tricotadores no reino.

    Quase cem anos depois, durante a Revolução Gloriosa, James 2º é retirado do trono e William de Orange é colocado em seu lugar. O Parlamento se estabelece como centro de governo e legislação. A coroa teria papel cerimonial apenas.

    O Parlamento iria ouvir as mais diversas lideranças do país, proprietários de terras, novos industriais, mercadores e comerciantes. Nenhuma ideia útil para novas máquinas ou negócios seria descartada por uma só pessoa.

    O talento criativo da nação passou a ser exercido por muitos. A Revolução Industrial veio em seguida. Ao contrário de Espanha e França, embarcações britânicas nos mares eram tipicamente de empresas privadas. O Reino Unido se tornou o maior império da história, com 458 milhões de pessoas e um quarto das terras do planeta, em 1922.

    Essa fase da história britânica revela duas características das nações ricas: instituições políticas que refletem a diversidade de interesses da população, garantindo a lei e o respeito à propriedade privada e intelectual, e quão encorajada é sua população a gerar novas empresas.

    Desde 1988, temos instituições políticas que amplamente representaram o nosso povo. O que está faltando para sermos uma nação rica?

    O Japão cresceu sua economia onze vezes de 1950 a 1980. O Brasil cresceu só quatro vezes nesse período. Empresas da Coreia do Sul receberam 14,5 mil patentes nos EUA em 2013. No mesmo ano, o Brasil recebeu 254. Tanto Japão como Coreia estabeleceram instituições políticas adequadas, mas investiram em educação em ciência e tecnologia para criação de novas empresas.

    Quão ineficientemente treinamos nossa população? O Brasil tem hoje 7,3 milhões de universitários. Nossas universidades públicas respondem por 20% das matrículas. Nos EUA são 22 milhões de estudantes do ensino superior, 73% deles em universidades públicas.

    Ajustando para as diferentes populações do Brasil e dos EUA, nossas universidades públicas precisariam oferecer sete vezes mais vagas. Uma expansão tão espetacular como essa não é viável com financiamento apenas do Estado.

    Tal expansão demanda que essas nossas universidades busquem recursos adicionais. Cobrança de mensalidades de alunos, doações de indivíduos e companhias, pesquisa contratada por empresas e consultoria externa paga a professores são várias das fontes para financiamento adicional buscado por universidades públicas americanas.

    Nossas universidades precisam ser vetores de desenvolvimento industrial. Engajá-las na criação de empresas de tecnologia é necessário para termos companhias globalmente competitivas. Professores precisam ser encorajados a criar empresas com seus alunos doutorandos e a servir como cientistas ou diretores em empresas de tecnologia.

    Essa mudança liderada por nossas universidades públicas representa uma convocação nacional para nossos talentos criativos. O desenvolvimento econômico e social do Brasil virá como consequência.

    LUIZ M. FRANCA-NETO, 49, engenheiro eletrônico pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e doutor em engenharia elétrica pela Universidade Stanford (EUA), é líder de pesquisas da HGST/Western Digital, fabricante de discos rígidos

    *

    PARTICIPAÇÃO

    Para colaborar, basta enviar e-mail para debates@uol.com.br.

    Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024