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    José Ricardo Hildebrandt Coutinho: A prevenção das DSTs muito além do carnaval

    11/04/2015 02h00

    A preocupação com as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) não deve se restringir ao período do carnaval. Segundo a Organização Mundial de Saúde, as ISTs infectam em torno de um milhão de novas pessoas a cada dia em todo o mundo. No Brasil as estimativas são de 10 a 12 milhões de novos casos/ano.

    Nos anos 60, com a liberalização dos costumes e o uso da pílula anticoncepcional, houve um aumento expressivo das ISTs, e isso perdurou até o início dos anos 80, com o aparecimento da infecção pelo HIV, que com sua alta mortalidade inicial fez com que as pessoas pensassem mais em sexo seguro.

    Monogamia, diminuição da exposição ao risco pela redução do número de parceiros e uso do preservativo nas relações com parceiros ocasionais fizeram com que houvesse uma diminuição acentuada de todas as ISTs, achando-se até que algumas delas estivessem caminhando para a extinção.

    A partir de 1996, com a introdução de novos medicamentos contra a Aids e a diminuição da sua mortalidade, houve uma falsa concepção de que era apenas mais uma doença crônica, que podia ser controlada. Mas a infecção e o uso desses medicamentos impõem a seus portadores limitações de vida que fazem com que muitos se rebelem, não usem as drogas corretamente ou não respondam bem a elas.

    Essa visão de doença crônica, não mais fatal, mas que há 30 anos levou à morte um grande número de pessoas famosas em todos os setores da sociedade, inclusive no meio artístico, tem levado um segmento dos jovens a se sentir atraído pelo risco de contraí-la, reunindo-se em festas para ter relações desprotegidas nas quais um dos atrativos é a possibilidade de contrair a Aids, uma prática denominada "barebacking sex", uma espécie de roleta-russa. O uso exagerado de álcool e de outras drogas também faz com que as pessoas percam um pouco a capacidade de escolher parceiros e de se preocupar com a proteção.

    Outras doenças também preocupam. Os casos de sífilis vêm aumentando nos últimos anos. Outras ISTs quase desaparecidas, como o linfogranuloma venéreo, estão ressurgindo, e a prevalência de outras, como a gonorreia, pode ser muito alta.

    Dados estatísticos recentes da Pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas na População Brasileira,coletados em 2013 e revelados pelo Ministério da Saúde em janeiro deste ano, apontam que o uso do preservativo na última relação sexual tem se mantido em torno de 50% nos últimos anos. Mostra ainda que o número de pessoas com mais de dez parceiros sexuais na vida vem aumentando, de 19% da população entrevistada em 2004 para 44% em 2013.

    O Brasil é um país que cuida bem de seus portadores do HIV, pela disponibilidade de médicos infectologistas nos postos de saúde e a distribuição gratuita de medicamentos contra o vírus. Entretanto, o número de casos da doença aumentou 11% entre 2005 e 2013, ao contrário de países mais desenvolvidos, e o maior aumento ocorre na população entre 15 e 24 anos.

    Talvez seja um alerta para as autoridades massificarem as campanhas de informação e para aqueles já bem esclarecidos a lembrança de que muitos problemas podem ser evitados pelo uso do preservativo, pela diminuição do número de parceiros, pela busca de testagem e pela revelação da sua condição de soropositivo aos parceiros, a fim de que eles também se protejam.

    JOSÉ RICARDO HILDEBRANDT COUTINHO, 63, é membro titular da Sociedade Brasileira de Coloproctologia

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