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    Editorial: Emprego em queda

    13/04/2015 02h00

    Nos últimos dois anos, apesar da deterioração geral da economia brasileira, o desemprego permaneceu baixo, enquanto a renda do trabalho avançou de forma razoável. O período de graça, no entanto, parece ter ficado para trás.

    Segundo dados da Pnad-Contínua, pesquisa de abrangência nacional do IBGE iniciada no ano passado, a taxa de desemprego atingiu 7,4% no trimestre encerrado em fevereiro –no mesmo período de 2014, o índice estava em 6,8%.

    O aumento da desocupação decorre da criação de vagas a um ritmo menor que o da expansão da força de trabalho. O crescimento da renda salarial (1,1%), por sua vez, representa cerca de um terço do registrado há um ano.

    Os dados da Pesquisa Mensal do Emprego, feita pelo IBGE em seis regiões metropolitanas, mostram resultados piores: geração de vagas e de renda em terreno negativo, indicando desaceleração ainda mais intensa nas grandes capitais.

    O mercado de trabalho normalmente leva mais tempo para sucumbir ao quadro de desalento porque o primeiro ajuste diante de uma contração econômica se dá nas horas trabalhadas. As empresas cortam a produção e evitam demitir, para não incorrer em custos nem desperdiçar o investimento em treinamento dos profissionais.

    Quando a recessão é persistente, porém, passa a ser inevitável reduzir a folha de pagamento.

    Além disso, houve, nos últimos anos, outro fator importante para a baixa desocupação: uma parcela menor que a usual da população considerada economicamente ativa partia em busca de trabalho.

    Uma das explicações para tal comportamento está nas camadas mais jovens da população. Segundo Naercio Menezes Filho, em artigo publicado no jornal "Valor Econômico", em 2013 havia 19 milhões de pessoas de 15 a 24 anos empregadas ou procurando emprego, 4 milhões a menos do que em 2005.

    Talvez uma influência seja a situação econômica dos adultos do domicílio, o que afeta as decisões dos jovens sobre prolongar os estudos ou procurar trabalho. O crescimento da renda, em especial das mulheres, talvez por causa do aumento do salário mínimo (acima da inflação), pode ter facilitado a permanência na escola.

    Desenha-se agora efeito oposto. A degradação do quadro econômico, ao destruir empregos e dificultar a continuidade dos ganhos de renda dos adultos, pode forçar muitos jovens a acelerar sua entrada no mercado de trabalho num momento desfavorável.

    Por todos esses fatores, é plausível que o desemprego continue crescendo depressa nos próximos meses –e, de novo, os erros cometidos pelo governo na gestão da economia recairão desproporcionalmente sobre os mais frágeis.

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