• Opinião

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    Editorial: A saga do balanço

    16/04/2015 02h00

    A julgar pelas informações mais recentes, a Petrobras publicará neste mês o balanço de seu patrimônio em 2014, com o aval de auditoria independente. Já não era sem tempo. As demonstrações financeiras estão atrasadas desde o final do ano passado, quando o consultor se recusou a assiná-las devido às denúncias de corrupção.

    Especula-se que o documento apresentará redução patrimonial de até R$ 30 bilhões, dos quais aproximadamente R$ 6 bilhões se explicariam por desvios.

    As perdas restantes decorreriam de falhas de planejamento, erros gerenciais e mudanças nas condições do mercado (preço do petróleo mais baixo, por exemplo, o que torna mais difícil recuperar investimentos em exploração de poços).

    Num universo de más notícias, a simples publicação do balanço auditado representará um passo fundamental no longo caminho para a reestruturação da empresa.

    Na hipótese de haver novo adiamento na entrega desse demonstrativo, cláusulas contratuais de credores poderiam forçar o vencimento das dívidas externas da estatal, estimadas em US$ 110 bilhões.

    Com isso, seria grande a possibilidade de rebaixamento da nota de crédito da Petrobras, com risco imediato de insolvência.

    A fim de evitar o pior, o governo federal inevitavelmente socorreria a petrolífera, oferecendo garantias ou forçando bancos públicos a financiá-la. Dada a enormidade das cifras, todavia, talvez a própria nota do país terminasse rebaixada, comprometendo a agenda de recuperação da economia.

    Afastado esse cenário traumático, ainda restará à estatal a difícil tarefa de recuperar a saúde financeira. Para tanto, será preciso adotar um conjunto amplo de medidas, incluindo venda de ativos, cortes drásticos nos investimentos e, algo já admitido pelo governo, revisão das regras de exploração do pré-sal que se mostraram onerosas e contraproducentes.

    Atitudes drásticas são necessárias: a dívida da Petrobras representa cerca de cinco vezes seu faturamento, um nível temerário. A disparada do dólar piora a situação, pois encarece o petróleo importado, diminuindo o lucro da empresa nas vendas domésticas.

    Os US$ 25 bilhões disponíveis em caixa em dezembro de 2014 devem cair para menos da metade, US$ 10 bilhões ao final deste ano.

    O descalabro da gestão petista deixará sinais negativos por muito tempo. Para superá-los, a empresa talvez precise vender patrimônio valioso, inclusive fatias de campos do pré-sal –ironia notável, pois o PT sempre acusou seus adversários de querer privatizar a estatal.

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