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    opinião

    Utilização do aplicativo de transporte Uber deve ser autorizada no Brasil? Não

    18/04/2015 02h00

    NATALÍCIO BEZERRA: O QUE O TÁXI NÃO OFERECE?

    "Não precisa explicar. Eu só queria entender!". Esse bordão resume bem a situação de desconforto que os taxistas vivem hoje. A frase do macaco Sócrates, no programa humorístico "Planeta dos Homens", nos remete a respostas óbvias, mas distorcidas por interesses obscuros.

    A frase cabe bem no contexto dessa discussão sobre as ilegalidades dos aplicativos de corridas que dizem ser de caronas.

    O serviço e a profissão de taxista são reconhecidos e regidos por leis federais e municipais. Só em São Paulo são mais de 30 mil trabalhadores transportando mais de meio milhão de passageiros. Reconhecidamente, o serviço paulistano é tido como o melhor do país e serve de exemplo para outras capitais, inclusive mundo afora.

    Temos plena consciência que todo serviço pode e deve ser melhorado e buscamos isso reiteradamente. Tanto é que, às vésperas da Copa, milhares de taxistas se formaram nos cursos de capacitação promovidos em parceria com a SPTuris (empresa de turismo e eventos do município de São Paulo) e com o Sebrae para a qualificação turística do motorista profissional.

    O resultado pôde ser conferido por meio de levantamento, realizado durante o Mundial pela Fundação Getulio Vargas, que apontou o serviço de táxi com avaliação positiva por quase 90% dos entrevistados –compostos por jornalistas e turistas estrangeiros–, que usaram como base de parâmetro e de comparação o serviço equivalente em seus países. São dados que merecem ser trazidos à tona e à discussão.

    Hoje, a aceitação de cartões de crédito e débito, além de aplicativos de corridas, é uma realidade entre os taxistas. O que nos incomoda não é a concorrência, mas o desrespeito e a afronta à legislação vigente e reguladora de nosso serviço.

    Nós sempre tivemos problemas com carros clandestinos e os aplicativos para celular que fazem uso de veículos particulares só reforçam essa ilegalidade.

    Start-ups se apresentam como empresas de tecnologia que ligam motoristas particulares e clientes, mas na prática qual foi a grande inovação que fizeram? Isso o serviço de táxi já oferece. Não custa lembrar novamente. Somos considerados umas das melhores e mais novas frotas do mundo.

    Se a questão é oferecer carros de luxo, possuímos também uma frota numerosa (com alguns deles inclusive, blindados) com motoristas bilíngues, wi-fi, vídeo, frigobar e carregadores de celulares. Em alguns pontos de grande circulação, oferecemos jornais diários, revistas e entretenimento para garantir o melhor conforto possível ao passageiro na hora da corrida.

    Se a intenção no futuro é a de compartilhar carros sem motoristas, como as bicicletas que encontramos pela cidade, não é o que eles fazem hoje. Aliás, pelo contrário, estão colocando mais carros nas ruas. Carona, culturalmente, não é paga e, nos moldes adotados, o serviço de táxi já é "compartilhado".

    Diante desse cenário, nos sobram muitas questões que merecem respostas. A cobrança é legal? Quem responde pela segurança do passageiro? Quem fiscaliza o serviço? Quantos mais veículos clandestinos farão o serviço de táxis ilegalmente? E ainda, essas empresas recolhem impostos?

    E o mais inacreditável de tudo, os valores desse serviço são maiores dos que um serviço executado por um motorista profissional, devidamente credenciado, qualificado e legalizado. Será mesmo que os Tribunais de Justiça da Europa que baniram o aplicativo e os consideraram ilegais também estão equivocados? Fica a reflexão.

    Como bem questionava o macaco Sócrates: "Não precisa explicar, eu só queria entender".

    NATALÍCIO BEZERRA, 77, presidente do Sindicato dos Taxistas Autônomos de São Paulo

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