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    Editorial: O avanço da dengue

    21/04/2015 02h00

    São inquietantes os números da dengue em 2015. Até o dia 28 de março, registraram-se 460 mil casos da moléstia viral no Brasil; no mesmo período do ano passado, haviam sido computadas 135 mil notificações. O surto já causou 132 mortes, 29% a mais do que no primeiro trimestre de 2014.

    Em São Paulo, o quadro é especialmente alarmante. O Estado concentra 56% das ocorrências, com 258 mil contaminações –um salto de 638% em relação às 35 mil do começo do ano passado.

    A incidência da doença em território paulista (585 casos/100 mil habitantes) é a terceira maior do país –atrás de Acre e Goiás– e se enquadra nos critérios de epidemia da Organização Mundial da Saúde.

    Apesar da magnitude do surto, as autoridades ainda falham em apresentar explicações satisfatórias. Sabe-se, por ora, que a existência de quatro tipos de dengue ajuda a decifrar parte do problema.

    Complexa e não de todo compreendida, a dinâmica de circulação das variedades do vírus altera-se com alguma frequência. Isso ocorre pois quem é contaminado por um dos sorotipos torna-se imune a ele, mas não aos demais.

    Com o tempo, esgotando-se a população suscetível a um certo tipo da dengue, este tende a desaparecer, sendo substituído por outro.

    Neste ano, segundo levantamento do Ministério da Saúde, o sorotipo 1 foi detectado em 90% das amostras. Trata-se de distribuição nociva para os paulistas, já que, nas décadas de 1990 e 2000, enquanto São Paulo se manteve relativamente livre da dengue, essa variedade do vírus se disseminou pelo restante do Brasil.

    Se nada pode ser feito para mudar esse quadro, dado que não existe vacina nem terapia para a doença, o trabalho de prevenção passa necessariamente pelo controle do mosquito transmissor, o Aedes aegypti, cujas larvas proliferam em água parada.

    Como atestam as quatro cidades paulistas (Barra do Chapéu, Monteiro Lobato, Timburi e Torre de Pedra) que ficaram imunes à dengue nos últimos dez anos, o apoio da população é fundamental –até porque 80% dos criadouros estão dentro das residências.

    O engajamento dos moradores, entretanto, dificilmente ocorrerá na escala necessária sem constantes visitas de agentes de saúde e campanhas informativas dos poderes públicos, que ainda devem garantir um monitoramento intenso da circulação de mosquitos.

    A receita decerto tem mais chances de sucesso em cidades pequenas, mas não deixa de ser uma inspiração para o restante do Estado.

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