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    opinião

    Hüseyin Diriöz: Olhando para o futuro

    23/04/2015 02h00

    Inverno de 1912. Um homem de barba grisalha, com uma tez escarlate e óculos elegantes tomava um café depois do outro. Absorto sobre o futuro do Império, analisava os relatórios das missões otomanas.

    Esse homem poderia imaginar que, aproximadamente 60 anos depois, extremistas armênios assassinariam mais de 30 inocentes diplomatas turcos do ministério que ele um dia liderou, além de seus parentes, apenas para tornar uma causa pública? Quem poderia imaginar?

    Esse homem era Gabriel Noradunkyan, o então Ministro das Relações Exteriores, otomano de descendência armênia, e essa causa é o chamado "genocídio armênio".

    Toda disputa deve ter dois ou mais lados. A julgar pelos esforços armênios, no entanto, os chamados "eventos de 1915" têm apenas um.

    Considerando que esse lado agarra-se a só uma narrativa, oferecendo uma visão simplista de eventos históricos, buscando silenciar cada visão dissidente, coibindo os esforços pela paz e, mais importante, declinando a oferta turca de estabelecer uma comissão conjunta, há razões para se ter certeza de que as alegações armênias são tendenciosas.

    Há anos, um amigo havia realizado uma experiência social só para ver o quão convincente uma história pode ser. Fornecendo detalhes como nomes, datas e locais, ele compôs uma ficção sobre uma suposta "troca de cartas" entre Antonio Vivaldi e Ahmed 3º, o sultão da época. Eles falavam de música –o sultão estaria ordenando um "concerto". "Praticamente todos acreditaram", ele concluiu.

    Pode ser que devido a essa característica humana que certos grupos armênios, apenas a fim de provar sua "intenção", baseiam-se num livro forjado, "As Memórias de Naim Bey", que inclui 30 telegramas adulterados de Talaat Pasha, um dos líderes do Império Otomano, propositadamente ordenando a matança de todos os armênios.

    Vários historiadores reconhecem que a realocação dos armênios foi necessária para a segurança dos otomanos na Primeira Guerra Mundial, assim como reconheceram os americanos e britânicos.

    A Turquia, no entanto, jamais deprecia o sofrimento vivido pelos armênios durante esse deslocamento. Coerentemente, em 2014, o então primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, homenageou a todos os cidadãos otomanos, inclusive os armênios, que perderam suas vidas nesse trágico período.

    Por outro lado, professores como Guenter Lewy, entre muitos outros, expuseram que "os armênios raramente estavam sozinhos ao passarem por tal privação". Em 1915, o então embaixador americano no Império Otomano, Henry Morgenthau, relatou que "a situação era deplorável, com milhares de pessoas [...] diariamente morrendo de fome".

    A missionária dinamarquesa Maria Jacobsen mencionou em 1916 "o Exército [otomano em Malatya] em breve será extinto sem uma guerra". Mais uma vez, enquanto simpatizamos com os cidadãos armênios que perderam suas vidas no caminho, fatalidades, infelizmente, faziam parte do cotidiano do Império.

    Os menos informados podem se sentir perplexos caso deem crédito às alegações armênias, já que terão que acreditar, simultaneamente, que o governo ordenou o extermínio dos armênios e que, ao mesmo tempo, enforcou 67 indivíduos em 1916 por maus tratos aos armênios.

    Para uma genuína reconciliação, o que falamos "deverá ser a verdade, toda a verdade e nada além da verdade". Ao passo que, enquanto você estiver lendo este artigo, na península de Galípoli ou em vários outros lugares do mundo, oficiais da Turquia, da Austrália e da Nova Zelândia, três vencedores na Primeira Guerra Mundial, estarão citando anedotas e discutindo as atuais e perfeitas relações. Isso porque estarão falando "a verdade, toda a verdade e nada além da verdade".

    "Aquele que não olha para frente, fica para trás." Turcos e armênios podem olhar para frente. Devemos fazê-lo.

    HÜSEYIN DIRIÖZ é embaixador da Turquia no Brasil

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