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    Editorial: Avanço a conta-gotas

    03/05/2015 02h00

    Ao conhecerem a baía de Guanabara, atletas estrangeiros têm se assustado com a água imunda na qual serão realizadas as provas de vela da Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016. Muitos competidores já começam a preparar o corpo e a mente para navegar nesse ambiente por alguns dias.

    Por tempo muito maior, entretanto, milhões de brasileiros terão de conviver com esgoto a céu aberto. Pelos cálculos do Instituto Trata Brasil, se depender do ritmo de expansão do saneamento básico no último quinquênio, a meta de universalizar esse serviço nas maiores cidades do país será cumprida apenas depois de 129 anos.

    De acordo com os dados mais recentes, de 2013, somente 39% do esgoto recebe tratamento no país, fatia 0,3 ponto percentual maior que a do ano anterior.

    Avanço igualmente ridículo descreve o crescimento da parcela que dispõe de coleta de esgoto: de 48,3% em 2012 a 48,6% em 2013.

    A baía da Guanabara talvez constitua o melhor exemplo do descaso do setor público com o saneamento. Promessa não cumprida de sucessivos governos estaduais, a despoluição de um dos mais belos cartões-postais do país chegou a ser anunciada como principal legado que a Olimpíada deixaria ao Rio.

    Não mais. Apesar do despejo de recursos extras, o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), admitiu que o objetivo de tratar 80% do esgoto vertido não será alcançado. Nem perto disso, na verdade: a menos de 500 dias dos Jogos, o índice é de meros 49%.

    O Rio de Janeiro, aliás, é a capital que mais regrediu em tratamento de esgoto nos últimos anos. A taxa despencou de 68,6%, em 2009, para 47,2%, em 2013.

    Mesmo em São Paulo, onde há oferta de água encanada para expressivos 99,2% da população, quase a metade do esgoto (49,5%) não é tratada. A atual crise de abastecimento hídrico seria bem menos dramática caso fosse possível utilizar recursos da represa Billings, para não mencionar o poluidíssimo rio Tietê.

    O estudo do Instituto Trata Brasil chama a atenção ainda pelas enormes desigualdades regionais, com péssimo desempenho no Norte do país. Porto Velho (RO), a capital mais precária, distribui água a apenas 30,8% de sua população e tem 0% de tratamento de esgoto.

    Com medo de contrair enfermidades na Olimpíada, vários velejadores escalados para singrar a Guanabara têm dito que não se aproximarão das águas. Para milhões de brasileiros, essa opção não existe.

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