• Opinião

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    Editorial: Mudança de clima

    24/05/2015 02h00

    Paris não será uma nova Copenhague. A 21ª conferência do clima (COP21) na capital francesa, em dezembro, deve parir um tratado para substituir o Protocolo de Kyoto, embora as diferenças entre países desenvolvidos e em desenvolvimento continuem enormes.

    A atmosfera das negociações internacionais evoluiu de modo favorável no último ano. Os ventos mudaram no plano rarefeito da política e no terreno áspero da realidade econômica –não o bastante, contudo, para que o acordo de Paris seja mais que um ponto de partida.

    A alteração mais significativa se deu entre as principais forças poluidoras do planeta, EUA e China, cujo desacordo sempre representou a maior barreira a um entendimento sobre como combater a mudança climática. Elas surpreenderam o mundo em novembro passado ao anunciar o compromisso conjunto de diminuir a poluição que agrava o efeito estufa.

    O presidente americano, Barack Obama, passou a atropelar os obstáculos a ações contra o clima erguidos por um Congresso conservador. Usou decretos para impor limites a emissões domésticas de carbono e encetou negociações bilaterais sobre o tema com a China.

    A locomotiva chinesa, de seu lado, pisou no freio para mudar sua trajetória poluidora. Próxima de igualar as emissões per capita da União Europeia, investiu em energia eólica e solar e, em 2014, logrou reduzir o uso de carvão em 2,9%, mesmo com o PIB andando a 7,4%.

    A cúpula chinesa tem razões de política interna para dar essa guinada: a poluição do ar nas cidades atingiu o ponto em que já se torna fator de distúrbio social. Resolvendo o problema doméstico, também melhora sua projeção no plano mundial como ator responsável.

    Em paralelo, Alemanha e França pressionam União Europeia e G7 a cumprir o compromisso de destinar US$ 100 bilhões anuais ao combate contra a mudança climática. Para mostrar boa vontade, a chanceler Angela Merkel anunciou que a contribuição alemã irá de US$ 2,2 bilhões para US$ 4,4 bilhões.

    Paris verá algum progresso em matéria financeira, questão de honra para países em desenvolvimento. Porém, no que mais importa –manter o aquecimento neste século abaixo dos 2°C–, já se sabe que as metas voluntárias nacionais serão insuficientes para afastar o espectro de riscos mais graves.

    O ponto principal em negociação em Paris será como revisar os compromissos adotados domesticamente para garantir o objetivo de longo prazo para a atmosfera. Mesmo que se resolva, restará ainda muito por realizar no chão.

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