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    Maira Caleffi e Luciana Holtz: Quando o diagnóstico não é precoce

    28/05/2015 02h00

    O câncer, que já foi uma palavra associada à morte, está deixando para trás seu estigma. Há milhares de pessoas que venceram a luta contra os tumores malignos, graças aos importantes avanços da medicina, que desenvolvem tratamentos cada vez mais precisos, eficazes e personalizados para cada tipo de tumor.

    Essas conquistas aconteceram não só para o câncer em fase inicial, mas também para os estágios mais avançados. Mesmo nos casos em que a cura não é mais possível, há tratamentos que permitem que os pacientes vivam por mais tempo e com qualidade de vida.

    Muito tem sido feito para aumentar a conscientização acerca da importância do diagnóstico precoce, o que garante um número maior de pacientes curados. No caso do câncer de mama, é possível elevar as chances de cura para 95% quando o tumor é descoberto nas fases iniciais. Agora é preciso intensificar o debate sobre o câncer avançado, realidade bem pouco conhecida, mas muito comum em nossa sociedade.

    Dados científicos e percepções do nosso próprio dia a dia com as pacientes apontam para uma realidade ainda mais difícil em nosso país. Aproximadamente 50% das pacientes com câncer de mama do SUS descobrem a doença em estágio avançado por inúmeras razões, dentre elas a desinformação sobre diagnóstico precoce, questões culturais e também a falta de acesso ao exame.

    Entre as pacientes com câncer de mama já diagnosticadas, estima-se que entre 20% a 30% progridam para o estágio metastático, segundo pesquisa realizada pelo Grupo Brasileiro de Estudos do Câncer de Mama (GBECAM). Além disso, 70% de todas as mortes por câncer de mama acontecem em mulheres de países em desenvolvimento. Falta de acesso ao diagnóstico? Falta de tratamento rápido e adequado?

    Quando falamos hoje em tratamento no estágio metastático, existem medicamentos que estão melhorando o prognóstico de uma mulher que convive com câncer de mama avançado, ajudando as a viverem mais e melhor.

    Quando a luta é contra o tempo, precisamos de todo o arsenal disponível. Cada minuto conta. Cada dia é mais tempo para a mulher estar com sua família. Cada ano é tempo para a medicina avançar mais e, quem sabe, descobrir novas formas de lutar contra o tumor.

    Apesar de a legislação brasileira prever o acesso universal igualitário à saúde, a realidade é um pouco diferente: há duas medicinas no Brasil, uma para o sistema público e outra para o privado. Pacientes do SUS não têm acesso aos mesmos tratamentos que os usuários de planos de saúde.

    Na prática, o acesso as importantes conquistas dos últimos 20 anos no tratamento contra o câncer de mama metastático é limitado para as pacientes que dependem do sistema público, que continuam sendo tratadas apenas com quimioterapia. Embora efetiva, há hoje tratamentos mais específicos que permitem que essas mulheres vivam por mais tempo e com menos efeitos colaterais.

    Por isso, precisamos da união de todos - médicos, pacientes, indústria e sociedade - para nos ajudar a trazer à tona as dificuldades das pacientes metastáticas para que elas sejam também assistidas pelas políticas do SUS. Dentre todas as incorporações do Ministério da Saúde nos últimos dois anos nenhuma delas beneficiou as pacientes com câncer de mama metastático. Isso precisa mudar. Estas mulheres merecem mais atenção.

    MAIRA CALEFFI presidente da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama - Femama
    LUCIANA HOLTZ presidente do Instituto Oncoguia

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