• Opinião

    Monday, 06-May-2024 18:59:07 -03

    Editorial: Mata em recuperação

    28/05/2015 02h00

    Após dois anos de aumento preocupante, a destruição da mata atlântica retomou trajetória de queda. As áreas derrubadas somaram 183 km² em 2014, uma retração de 24% sobre o ano anterior.

    Desde os anos 1980, as taxas de devastação vinham recuando, de mais de mil km² anuais para 140 km² (2011). Nos dois períodos seguintes, o monitoramento pela organização não governamental SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais apontou reveses para a combalida floresta: a taxa saltou para 220 km² (2012) e 240 km² (2013).

    Com a diminuição medida no ano passado, renova-se a expectativa de um destino mais auspicioso para o ecossistema em cujo domínio vivem 72% da população brasileira, ora reduzido a 12,5% da área original de 1,3 milhão de km². Há indicações convincentes de que o prognóstico esteja correto.

    A maioria (nove) dos 17 Estados abrangidos pela mata atlântica apresentou desmatamento inferior a 1 km² em 2014. Em termos práticos, o feito corresponde à almejada taxa zero de destruição.

    Mais importante, entre esses Estados encontram-se dois do Sudeste assolados pela seca, São Paulo e Rio de Janeiro. Florestas, afinal, são um componente decisivo da conservação de recursos hídricos, na exata medida em que modulam a absorção da água pelo solo e impedem seu escorrimento superficial, com isso favorecendo a recarga de aquíferos e reservatórios.

    O Estado de Minas Gerais, também castigado pela estiagem, ainda figura em segundo lugar na lista da devastação, com 56,1 km². Mas logrou reduzir a área derrubada em 34% de um ano para o outro, resultado palpável da moratória estadual na concessão de licenças para supressão vegetal.

    Seria o caso de considerar medida similar no Piauí, que desponta no topo da lista SOS/Inpe, com 56,3 km² de áreas desmatadas, mesmo tendo registrado recuo de 15% em relação a 2013 (66,3 km²). O avanço da fronteira agrícola está na origem do risco para as florestas primárias do Estado nordestino.

    É preciso ordenar essa expansão, de maneira a que se ocupem preferencialmente áreas já degradadas ou desmatadas. Não interessa ao agronegócio que sua pujança seja tisnada pela imagem de predador de recursos naturais.

    Conforme vai se concretizando o sonho do desmatamento zero, surge um novo desafio na mata atlântica: recuperar as áreas de preservação permanente ao longo de corpos hídricos. Sem isso, o abastecimento de água nas maiores cidades do país seguirá sob ameaça.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024