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    editorial

    Tiro no pé das Farc

    16/06/2015 02h00

    Em outubro de 2012, o governo colombiano e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) iniciaram complexo e bem-vindo diálogo de paz com vistas a encerrar o violento conflito civil que já dura meio século. O esforço, porém, corre o risco de ser desperdiçado devido aos recentes ataques promovidos pelos narcoguerrilheiros.

    Após anunciar formalmente o fim do cessar-fogo unilateral iniciado havia cinco meses, as Farc realizaram atentados que miravam as forças de segurança e a infraestrutura do país, como torres de transmissão de energia e oleodutos, deixando um rastro de mortos e ruínas.

    Na semana passada, pelo menos 1 milhão de pessoas ficaram sem luz em três regiões da Colômbia, enquanto ao menos três rios foram contaminados por milhares de litros de petróleo cru.

    Em Cauca (sul), onde os combates têm sido mais intensos, ao menos 19 policiais e militares, além de 40 guerrilheiros, perderam suas vidas nas últimas semanas; mais de 400 famílias se viram obrigadas a abandonar as suas casas.

    Conforme mostrou esta Folha, comunidades indígenas e negras têm formado milícias para se defender do fogo cruzado -estratégia que no passado levou à formação de grupos paramilitares tão ou mais violentos que a guerrilha.

    Ao que tudo indica, a demonstração de força das Farc tem o objetivo de destravar o principal impasse nas negociações em curso em Havana: os poderes da Justiça de transição. A guerrilha não aceita se submeter a um julgamento que possa resultar em penas de prisão, como exige o governo colombiano.

    Parece um péssimo cálculo. Se os narcoguerrilheiros de fato pretendem depor as armas, aterrorizar civis só ampliará a desconfiança da opinião pública sobre a viabilidade das negociações.

    Do ponto de vista militar, o confronto tampouco favorece as Farc, que hoje dispõem de apenas uma fração do território controlado no início do século. Além disso, o eventual fim do diálogo enfraqueceria o presidente Juan Manuel Santos, abrindo espaço para seu antecessor -e ex-aliado-, Álvaro Uribe, defensor da solução bélica.

    Por enquanto, o recrudescimento dos combates não congelou as tratativas -recentemente, até houve um acordo preliminar para a criação de uma comissão da verdade. Trata-se, contudo, de uma situação frágil, e o tiroteio oferece muitas oportunidades para que o diálogo termine ferido de morte.

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