• Opinião

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    Floriano Pesaro

    O movimento hostil

    26/06/2015 02h00

    O conflito palestino-israelense extrapola suas fronteiras de um modo perturbador. Existe um movimento extremamente pernicioso chamado BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) que pede ao mundo que se boicote, que se pare de investir e que se imponham sanções ao Estado de Israel.

    Esse BDS, fundado em 2005, faz a estranha comparação da situação na região com o apartheid na África do Sul e desrespeita a democracia israelense. Esse movimento se aproveita da retórica esquerdopata idealista das universidades e fomenta o boicote acadêmico, prejudicando as universidades israelenses e o intercâmbio de alunos e professores.

    O livro "The Case Against Academic Boycotts of Israel" (do inglês "O caso contra boicotes acadêmicos a Israel"), composto de 32 ensaios sobre a questão, mostra como o debate extrapola a academia e incita o antissemitismo. Em palestra, a autora de um dos textos, Donna Robinson Divine, disse que o BDS é mais prejudicial à academia do que ao Estado de Israel.

    Na verdade, o movimento BDS, em sua estrutura, antevê a substituição de Israel enquanto Estado judeu e democrático por uma entidade binacional de maioria palestina, é o que afirma um dos escritores do livro, Asaf Romirowsky.

    Algumas celebridades se recusarem a ir tocar em Israel, como Roger Waters, ex-integrante do Pink Floyd, e o U2. Também soubemos de cidades portuárias cujos funcionários se recusaram a descarregar navios de bandeiras israelenses.

    O BDS teve sua expressão também aqui no Brasil. Por um lado, viu-se o bom senso de Caetano Veloso e Gilberto Gil ao confirmarem seu show em Israel, evitando fazerem parte do ridículo boicote.
    Entretanto, o pró-reitor da Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, foi capaz de, vilmente, exigir a identificação de todos os cidadãos israelenses de seu corpo docente e discente, em um ato discriminatório inapelável.

    Há dois aspectos desse movimento a serem analisados. O primeiro é o psicológico. Embora a estratégia de boicote, desinvestimento e sanções agregue uma imagem de guerra econômica contra Israel, a verdade é que o efeito psicológico do movimento BDS é mais insidioso.

    Em geral, estudos mostram que a economia de Israel é suficientemente resiliente para suportar os efeitos limitados do BDS. Mas a cada vez que se anuncia um boicote ou que um desinvestimento é votado em uma universidade, reforça-se a posição de que Israel não merece um lugar entre as nações.

    Outro aspecto é que o boicote nos remete ao antissemitismo e às leis nazistas e fascistas de 1933 na Alemanha e de 1938 na Itália. O antissionismo de hoje esconde um antissemitismo arraigado nos mesmos preconceitos medievais do "libelo de sangue" e do "judeu tentando destruir a civilização".

    Israel é uma nação jovem, democrática, inovadora, com seus defeitos, sim, mas digna de respeito mundial. É o país que abriga o Technion, um dos maiores institutos dedicado à tecnologia médica do mundo, da Universidade de Tel Aviv, que está perto de alcançar uma vacina que nos proteja tanto do mal de Alzheimer como de derrames, e do Hospital Ichilov, que isolou uma proteína que deve substituir a colonoscopia na detecção do câncer de cólon.

    Nossa tarefa é denunciar o BDS como um movimento antissemita, que visa destruir o estado judeu, e não só desocupar os territórios palestinos. A paz virá quando ambos os lados nutrirem a real aspiração de ver as necessidades alheias serem conquistadas.

    FLORIANO PESARO, 47, é secretário estadual de Desenvolvimento Social de São Paulo

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