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    editorial

    Laços reatados

    04/07/2015 02h00

    O saldo da visita de quatro dias da presidente Dilma Rousseff (PT) aos Estados Unidos é sem dúvida positivo, mesmo porque era difícil ser diferente. Dado o estado de paralisia em que se encontrava a relação bilateral nos últimos dois anos, qualquer gesto diplomático, ainda que superficial, ajudaria a recompor a parceria.

    Tratava-se sobretudo de normalizar os canais de comunicação entre os dois países, seriamente comprometidos desde a revelação, em 2013, de que cidadãos e empresas do Brasil tinham sido espionados por uma agência de segurança dos EUA. Ainda mais grave, a própria presidente viu-se alvo do abuso.

    Nesse aspecto, a visita foi um sucesso. Dilma declarou que sua ida a Washington representava o reatamento dos laços com o parceiro histórico. Na entrevista coletiva concedida em conjunto com o presidente norte-americano, ouviu de Barack Obama que os Estados Unidos encaravam o Brasil como uma potência global, não regional.

    A mesura, ainda que representativa do clima de amizade que pautou o encontro, não deixa de conter grãos de verdade. O Brasil é um "parceiro indispensável", como assinalou o líder norte-americano, nos esforços mundiais de promoção da saúde, redução da pobreza e preservação do ambiente.

    Para além desse apoio, de resto intangível, houve poucos resultados palpáveis. Destravaram-se dois acordos no setor da defesa, ambos assinados em 2010 e ratificados às pressas pelo Congresso antes do embarque da presidente.

    A vigência dos tratados deverá beneficiar a indústria militar dos dois países, pois os pactos ampliam tanto a cooperação em pesquisa e desenvolvimento como as possibilidades de comercialização de produtos da área.

    Confirmou-se, ademais, a liberação da entrada da carne brasileira in natura no mercado norte-americano, encerrando uma negociação que já durava mais de 15 anos.

    Se algumas questões pendentes chegaram a bom termo, outras permaneceram estacionadas. É o caso da dispensa de visto para turistas brasileiros e americanos. A facilitação do trânsito poderia alavancar o turismo no Brasil.

    Em uma agenda crucial como a da liberação do comércio, ambos os países ressaltaram a importância de avançar na desburocratização, mas se limitaram a repetir os termos de declarações anteriores.

    Além disso, onde o Brasil poderia dar um passo à frente, a presidente Dilma Rousseff decepcionou. Num tema considerado prioritário pela Casa Branca, o da mudança climática, o tímido anúncio brasileiro frustrou os norte-americanos, que vêm tentando costurar acordos para a Conferência do Clima de Paris, no final do ano.

    Por falta de ambição e competência, o país perdeu, nos Estados Unidos, uma oportunidade única de ampliar sua visibilidade e exercer maior liderança num assunto que ocupa cada vez mais a atenção das potências mundiais.

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