• Opinião

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    editorial

    Cai outro muro

    05/07/2015 02h00

    O anúncio de que Cuba e Estados Unidos vão reabrir suas embaixadas em 20 de julho derruba um dos últimos símbolos da Guerra Fria.

    No dia 3 de janeiro de 1961 –sete meses antes da construção do Muro de Berlim–, o então presidente norte-americano Dwight Eisenhower rompeu relações diplomáticas com o governo cubano após uma escalada de confrontos na esfera comercial –que culminou na decretação de um embargo parcial.

    A crise se agravou após a posse de John Kennedy, que deu apoio ostensivo à invasão da baía dos Porcos, em 17 de abril. A desastrada tentativa de derrubar o ditador Fidel Castro pela força selou a aproximação do regime cubano com a União Soviética, e a economia da ilha terminou moldada segundo dogmas marxistas-leninistas.

    A estratégia norte-americana, de confrontação aberta, foi mantida ao longo das sucessivas administrações, tanto democratas como republicanas. Seu objetivo era isolar a ilha dos demais países ocidentais, do que resultaria a asfixia da economia cubana.

    Todo esse esforço para induzir a população cubana a se rebelar contra sua elite dirigente fracassou, no entanto, e o embargo se converteu em uma justificativa verossímil para explicar a ineficiência crônica do Estado.

    Mais ainda, tornou-se uma bandeira bastante eficaz para mobilizar a população contra o dito imperialismo americano e, sobretudo, contra os opositores da ditadura.

    Devido a essas circunstâncias, o comunismo cubano conseguiu sobreviver ao fim de sua matriz, em 1991, até que a Venezuela veio a substituir a União Soviética no papel de provedor de recursos.

    O reconhecimento de que essa estratégia belicosa estava equivocada constitui um mérito incontestável do governo Barack Obama.

    Em 2013, o democrata começou a negociar um acordo com Raúl Castro para restabelecer as laços diplomáticos entre os dois países, em uma jogada que, guardadas as proporções, fez lembrar a visita de Richard Nixon à China de Mao Tse-tung, em fevereiro de 1972.

    Obama vai na direção correta. A política de confrontação já produziu estragos em demasia. A normalização das relações políticas e a abertura comercial constituem armas muito mais potentes para induzir a democratização de países autoritários do que coalizões militares e bloqueios comerciais.


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