• Opinião

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    Editorial

    Compasso de espera

    07/07/2015 02h00

    A convenção nacional do PSDB, realizada em Brasília no domingo (5), deu-se em momento político bastante delicado. De um lado, alastra-se a impressão de que o governo Dilma Rousseff (PT) se aproxima de crise terminal. De outro, não parece conveniente aos principais líderes tucanos a tarefa de assumir, desde já, a defesa aberta de um impeachment da presidente.

    Mas qual impeachment? Qual renúncia? Como fixar com clareza o que é defesa legítima de uma cassação e o que pode surgir como conhecida histeria golpista?

    Para quando, aliás, o eventual impeachment? O quanto antes? Ou depois de processo mais longo? Ou, quem sabe, o mais interessante seja apostar no parlamentarismo?

    As três hipóteses teriam, respectivamente, a preferência do senador Aécio Neves (MG), do governador Geraldo Alckmin (SP) e do senador José Serra (SP).

    No caso do mineiro, a convocação de novas eleições em curto lapso de tempo traria para sua candidatura a vantagem do "recall", do lastro que sua campanha recente terá deixado na memória popular.

    Para a postulação de Alckmin, contudo, o desgaste de Dilma não precisaria ter desfecho tão imediato, ao passo que, para Serra, haverá de ser mais sedutora a possibilidade de um acordo em que a ascensão do vice Michel Temer (PMDB) se acompanhasse da escolha de um primeiro-ministro do PSDB, numa grande coalizão nacional.

    Nenhuma dessas hipóteses, todavia, parece concreta. O futuro do governo Dilma não está selado. Ainda há muito a ser definido nos dois planos em que se joga o arriscado xadrez do impeachment.

    As "pedaladas fiscais" serão julgadas pelo Tribunal de Contas da União –e só depois, se houver a rejeição das contas do governo, o tema será analisado pelo Congresso.

    Quanto às investigações da Operação Lava Jato e suas repercussões sobre as doações à campanha de Dilma, ainda parece faltar evidência decisiva capaz de extinguir as esperanças dos petistas.

    Terminaram sendo cautelosas, portanto, as manifestações dos principais líderes tucanos no domingo. Sabe-se de que modo, no Congresso, o PSDB tem se pautado pela irresponsabilidade do "quanto pior, melhor", aprovando medidas que em sã consciência nenhum partido com vistas a alcançar o poder poderia desejar.

    Já no âmbito da alta estratégia de seus próceres –onde como sempre são visíveis os sinais de desunião e as veleidades pessoais–, o tom se caracteriza, felizmente, por um pouco mais de sensatez.

    "Não cabe ao PSDB antecipar a saída de um presidente. Não somos golpistas", disse Aécio Neves. Mas a sigla terá "coragem para fazer o que precisa ser feito", disse o mesmo Aécio. Entre uma coisa e outra, o PSDB espera –e um equilíbrio, ainda que precário, se mantém.


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