• Opinião

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    Editorial

    Arquitetura eleitoral

    16/07/2015 02h00

    O noticiário trouxe, nos últimos dias, dois exemplos de um tipo comum de descaso com o dinheiro do contribuinte: a aplicação de recursos públicos em obras de necessidade duvidosa e que, para piorar, terminam custando, considerados atrasos e aditamentos, muito mais do que se anunciava no lançamento das intervenções.

    Em São Bernardo do Campo (SP), berço político do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a construção do Museu do Trabalho e do Trabalhador começou em abril de 2012 e deveria ter sido finalizada no início de 2013. Vários problemas, todavia, adiaram sua conclusão, e o projeto do prefeito Luiz Marinho (PT) está parado há oito meses.

    Além disso, a licitação foi reprovada pelo Tribunal de Contas do Estado, que identificou indícios de direcionamento do contrato e irregularidades no orçamento. Com um custo a princípio estimado em R$ 18,9 milhões, a iniciativa deve consumir pelo menos outros R$ 4,5 milhões, solicitados num aditamento de outubro passado.

    Muito dinheiro, sem dúvida, mas, diante do Aquário do Pantanal, em Campo Grande (MS), o museu do trabalho, passe o trocadilho, é um peixe pequeno.

    Anunciado em 2011 como o maior aquário de água doce do mundo, o edifício demandou R$ 173 milhões até agora, o dobro da previsão inicial. Deveria ter sido concluído em 2014, mas não está pronto. Devido ao atraso, morreram mais de 10 mil peixes que precisariam ser transferidos para o reservatório.

    Demoras à parte, André Puccinelli (PMDB), governador do Estado de 2007 a 2014, percebeu que se mostrava insuficiente dizer que o aquário impulsionaria o turismo. Passou, assim, a defender uma certa importância estratégica da obra.

    Uma vez pronta, simbolizaria as riquezas locais e ajudaria a diferenciar o Estado de seu vizinho. "Universidades do mundo todo vão vir e dizer que aqui é Mato Grosso do Sul, e não Mato Grosso", afirmou.

    Tanto o Aquário do Pantanal como o Museu do Trabalho e do Trabalhador estão sendo investigados pelo Ministério Público, e caberá à Justiça concluir se houve atos ilícitos nessas empreitadas.

    Do ponto de vista político, porém, o julgamento é mais simples: gestores envolvidos em projetos dessa natureza ou falham como administradores e não conseguem definir prioridades, ou superdimensionam tais iniciativas por motivações eleitoreiras. De um jeito ou de outro, dificilmente serão inocentes.

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