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    editorial

    Diversionismo perigoso

    31/07/2015 02h00

    Incapaz de lidar com os enormes problemas internos criados pelo próprio chavismo, o histriônico presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, mostra-se disposto a reacender uma velha contenda territorial com a vizinha Guiana.

    A crise atual começou em meados de maio, quando a empresa norte-americana Exxon anunciou a descoberta de uma grande reserva de petróleo na costa guianense.

    Algumas semanas depois, Maduro promulgou um novo mapa marítimo venezuelano. A carta passava a abranger quase todo o mar do país contíguo –incluindo, naturalmente, a jazida recém-descoberta.

    Do ponto de vista venezuelano, o gesto não soa despropositado. Inscreve-se, ao contrário, no histórico de disputa entre Caracas e Georgetown pela região de Essequibo, uma extensa fatia que vai do litoral à fronteira com o Brasil.

    Remontando ao século 19, quando a Guiana era colônia britânica, o litígio foi arbitrado em 1899 por um tribunal internacional, que deu ganho de causa ao Reino Unido.

    Caracas retomou o assunto em 1962, quando a Guiana iniciava a transição para sua independência (conquistada quatro anos mais tarde). Na época, os mapas venezuelanos passaram a incluir Essequibo como "zona em reclamação".

    Nos últimos anos, porém, a contestação havia deixado de ser prioridade, e o presidente Hugo Chávez (1999-2013) se viu criticado por opositores pela relação amistosa com Georgetown. O caudilho provavelmente percebeu que não seria fácil rever traçados estabelecidos por um tribunal internacional.

    Para a Guiana e seus pouco mais de 700 mil habitantes, todavia, trata-se de questão de sobrevivência. Com 159 mil km2 (pouco maior do que o Acre), Essequibo representa dois terços do território nacional. O petróleo recém-descoberto, além disso, gerou grandes expectativas de desenvolvimento econômico.

    Único vizinho de ambos os países, o Brasil deixou claro, na cúpula do Mercosul realizada em Brasília, que não aceitará desrespeito às fronteiras atuais. Fez bem; precisa, agora, agir para que a crise se circunscreva aos canais diplomáticos.

    A tarefa não é fácil. Procurando influenciar a eleição legislativa de dezembro, Nicolás Maduro usa a disputa com a Guiana para inflamar o discurso patriótico –desviando-se dos problemas domésticos.

    Faria melhor se cuidasse de governar seu país, que sofre com inflação galopante, criminalidade elevadíssima, desabastecimento crônico de alimentos, escassez de remédios e alta mortalidade materna.

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