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    editorial

    Semear tecnologia

    02/08/2015 02h00

    Há quem enxergue na exuberância agropecuária brasileira um indicativo de retrocesso, pois seus produtos passaram a dominar a pauta de exportações, enquanto bens industriais perderam mercado.

    Grande disparate. O setor agrícola não pode ser responsabilizado pela carência de inovação na indústria nem pelas políticas equivocadas que retiraram dos bens manufaturados nacionais a capacidade de concorrer no plano mundial.

    Afinal, foi a infusão de tecnologia no campo que o transformou num peso pesado da economia, gerando quase 25% do PIB brasileiro.

    Como mostraram reportagens da série "O Brasil que Dá Certo", nesta Folha, o agronegócio avançou porque inovou.

    Técnicas de plantio direto e correção do solo no Brasil Central, assim como o desenvolvimento de cultivares de soja e de cana, permitiram bater recordes de competitividade das commodities agrícolas mesmo com as acabrunhantes deficiências logísticas do país.

    Não se ignora que, na rápida expansão da fronteira agrícola nas duas últimas décadas, houve excessos. E não foram poucos, dos subsídios para produtores com baixo rendimento à desordem fundiária, do abuso de agrotóxicos à devastação de biomas únicos, como a floresta amazônica e o cerrado.

    Iludem-se, contudo, os que veem na agricultura orgânica e em iniciativas similares uma alternativa à exploração intensiva. Ainda que cresça à taxa de 30% anuais, como em 2014, ela permanecerá por bom tempo como um nicho restrito. O mercado de orgânicos movimentará neste ano estimados R$ 2,5 bilhões, apenas 0,2% de um PIB agrícola da ordem de R$ 1,1 trilhão.

    É de mais tecnologia, e tecnologia de baixo impacto sobre os ecossistemas, que o campo precisa. Aumentar a produtividade para diminuir a necessidade de desmatar novas áreas e, de permeio, melhorar a renda e a qualidade dos empregos agrícolas –ao mesmo tempo em que se atendem demandas socioambientais dos mercados.

    Cada vez mais pecuaristas se dão conta, por exemplo, de que a modalidade extensiva usada por cinco séculos não tem mais cabimento.

    O futuro está nas boas práticas de base tecnológica, como o melhoramento genético e a integração de lavoura com pecuária e florestas. Produzindo mais carne por unidade de área, o setor liberará áreas devastadas e degradadas para a produção de grãos.

    Muito se ouve que o Brasil não precisa mais desmatar para expandir a produção agrícola. Chegou a hora de demonstrar que isso não é conversa para boi dormir.

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