• Opinião

    Sunday, 05-May-2024 16:04:45 -03

    Pedro Eduardo Menegasso

    Médico mais prédio novo é igual a saúde?

    05/08/2015 02h00

    Assistimos, pela TV, nossos governantes inaugurarem periodicamente novos hospitais, unidades de pronto-atendimento e ambulatórios. O programa federal Mais Médicos atingiu cidades dificilmente alcançadas antes. Porém, eu me pergunto: o que estamos entregando à população é saúde?

    A resposta a essa pergunta está em iniciativas simples como a proposta no projeto de lei nº 4.135/12, da senadora e farmacêutica Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), que foi aprovado pela Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados dia 1º de julho. Resta, agora, a apreciação da Comissão de Constituição e Justiça para o PL ser enviado à sanção presidencial.

    O projeto propõe a obrigatoriedade do farmacêutico no Sistema Único de Saúde, uma luta antiga da categoria. Hoje, o número de farmacêuticos que atuam no setor público é insuficiente para atendimento da demanda e prestação de todos os serviços que cabem a esse profissional.

    É claro que o farmacêutico não é a única solução para aperfeiçoar o SUS. Porém o PL está entre as poucas iniciativas governamentais que não se restringem a mais médicos e mais edifícios.

    No SUS, o farmacêutico tem conhecimento para fazer uma gestão melhor dos medicamentos, poupando dinheiro público. Ele tem também como garantir a integridade desses produtos com o armazenamento adequado.

    Ele deve também acompanhar o tratamento dos pacientes, com orientações importantes que são prestadas no momento da dispensação do medicamento. A isso, nós, da área, damos o nome de assistência farmacêutica.

    Neste momento, o leitor estará se perguntando se um presidente de Conselho Regional de Farmácia (CRF), como eu, não estaria apenas defendendo o seu quinhão, a sua fatia de mercado de trabalho, ao brigar por isso.

    O governo do Estado de São Paulo, por exemplo, entende a questão como corporativismo, e, por isso, mantém liminar na Justiça para garantir que não seja obrigado a contratar farmacêuticos.

    Respondo que o questionamento é pertinente, sim. Uma entidade como o CRF-SP trabalha para garantir o exercício profissional da sua categoria, mas, em primeiro lugar, defende a saúde por meio do trabalho ético do farmacêutico, punindo, inclusive, os próprios inscritos que infringem a lei.

    O CRF-SP defende a promoção da assistência farmacêutica e o uso racional de medicamentos.

    Sugiro que o leitor passeie pelos dispensários dos postos de saúde e hospitais públicos. Armazenamento precário, geladeiras quebradas, desperdício, assistentes administrativos e outros servidores despreparados para lidar com esses produtos e pacientes confusos na fila de atendimento, indo embora cheios de caixas nas mãos e muitas dúvidas na cabeça.

    Que aderência ao tratamento terá um paciente assim? Que eficácia terá esse tratamento?

    Saúde não é apenas garantir um diagnóstico, muito menos distribuir medicamentos gratuitos em programas cheios de estratégias de marketing político.

    Jogar diagnóstico e caixas de remédios nas mãos da população, assim, como se tivesse feito "a sua parte", abrindo mão da orientação e acompanhamento do tratamento, da educação sobre hábitos saudáveis, é desperdiçar recursos e negar aos brasileiros o que há de mais importante numa saúde pública de êxito: a promoção da qualidade de vida.

    PEDRO EDUARDO MENEGASSO, 48, é presidente do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo - CRF-SP

    *

    PARTICIPAÇÃO

    Para colaborar, basta enviar e-mail para debates@uol.com.br.

    Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024