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    editorial

    Carvão na encruzilhada

    05/08/2015 02h00

    A versão final do Plano de Energia Limpa apresentada pelo presidente dos EUA, Barack Obama, bateu mais um prego no caixão que um dia sepultará a indústria do carvão mineral. Seja por razões ambientais, seja por motivos econômicos, o setor tem pouco futuro no cenário energético mundial.

    A versão anterior do programa, de pouco mais de um ano atrás, recebeu mais de 4 milhões de comentários na fase de consulta pública. O setor elétrico terá agora de cortar 32% de suas emissões de gases do efeito estufa, como o dióxido de carbono (CO2), até 2030, tomando por base os níveis de 2005.

    A meta sofreu acréscimo de 9%. Por outro lado, Obama fixou dois anos a mais de prazo para cada Estado pôr em prática o planejamento com vistas a alcançar tal objetivo. Além disso, o governo elevou de 22% para 28% a participação esperada de fontes renováveis de energia na matriz elétrica em 2030.

    Em 2014, os Estados Unidos geraram 39% de sua eletricidade queimando carvão em usinas termelétricas. Cumprido o plano, em 15 anos essa fatia terá caído para 27%. Mas as mineradoras já competem ferozmente por compradores, com o preço do produto no nível mais baixo em uma década e meia.

    O algoz do ramo carbonífero, contudo, não é Obama, como propagam republicanos e democratas dos Estados onde o setor tem maior peso na economia; é o gás natural, sobretudo o de xisto. Para obter do carvão mineral uma mesma unidade de energia (BTU), paga-se lá US$ 1,80, contra US$ 0,80 pelo gás de xisto.

    O gás natural não representa solução definitiva para o problema do aquecimento global e da mudança do clima, está claro. Ele mesmo um combustível fóssil, também produz CO2 quando queimado –mas polui menos por unidade de energia.

    É encarado, por isso, como uma forma de transitar para a descarbonização do setor energético, nos EUA e no restante do mundo. Não no Brasil, cuja matriz elétrica ainda conta com mais de dois terços de uma fonte renovável –a hidrológica– na sua matriz elétrica.

    Até a China, país onde mais cresceu o consumo de carvão para gerar eletricidade, já planeja seu desembarque dessa fonte. Entre outras razões, porque a poluição do ar causa centenas de milhares de mortes precoces nos centros urbanos.

    China e EUA, os maiores poluidores do planeta, entraram na rota da descarbonização, ainda que lentamente. A primeira vítima será o carvão, mas também chegará o dia do petróleo e do gás natural.

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