• Opinião

    Wednesday, 26-Jun-2024 03:49:33 -03

    editorial

    Passado à vista

    09/08/2015 02h00

    Nas últimas semanas, a crise econômica mudou de patamar.

    Já se consolidava, desde 2014, um cenário recessivo, com o esgotamento da capacidade do governo de distribuir benesses e o colapso da confiança de investidores, empresários e consumidores.

    Tem outra natureza, porém, o que se observa a partir de julho: a rápida deterioração de indicadores financeiros, normalmente associada a turbulências agudas.

    Estão nesse pacote a acelerada desvalorização do real, a elevação do risco Brasil –que mede a chance de calote da dívida pública– e a disparada dos juros internos de longo prazo, entre outros. Apesar de o país ainda receber das agências de risco o selo de bom pagador, na prática o mercado já considera essa classificação perdida.

    Não se trata de mera especulação financeira. São evidências de que aumenta a todo instante a insegurança quanto aos rumos nacionais. O Brasil flerta com um passado que se acreditava superado, no qual as recorrentes agitações financeiras contaminavam o ambiente de negócios e ditavam o próprio andamento da economia.

    A mudança nesses indicadores reflete temores crescentes de que a inoperância do governo –e do sistema político como um todo– favoreça cenários ainda mais danosos.

    Se a escalada do dólar se prolongar, por exemplo, ficará mais difícil reduzir a inflação em 2016. Nesse caso, o Banco Central pode se sentir obrigado a manter as taxas de juros nas alturas. Assim, haverá obstáculos adicionais ao crédito e agravamento da recessão.

    Por isso, começam a aparecer projeções de queda de até 2,5% no PIB deste ano –e desaparecem os sinais de retomada em 2016.

    O gatilho para esse novo cenário foi a revisão na meta de superavit primário (o saldo de receitas e despesas antes do pagamento de juros). Em vez de buscar economia de 1,1% do PIB, o governo passou a perseguir um objetivo de 0,15% neste ano, com reduções em todas as expectativas até 2018.

    Desfez-se, de imediato, a frágil esperança de estabilizar a dívida no mandato da presidente Dilma Rousseff (PT). Desnudou-se, além disso, o desequilíbrio estrutural entre receitas e despesas.

    É urgente a necessidade de conter os gastos e melhorar a qualidade do arrecadação, a fim de carrear para os cofres públicos cerca de 4% do PIB nos próximos anos. Sem que o governo consiga controlar sua própria base aliada, o Congresso, lamentavelmente, age na direção oposta, criando despesas.

    Está em curso um mecanismo vicioso: a crise econômica alimenta a crise política –e vice-versa. É necessário interromper esse ciclo; a incerteza política não pode significar perda de controle na economia.

    A missão é difícil, mas está longe de ser impossível. Pelo bem do país, as principais lideranças nacionais precisam chegar a um consenso em torno de uma agenda mínima, capaz de evitar turbulências e prejuízos ainda maiores.

    editoriais@uol.com.br

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024