• Opinião

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    editorial

    Disputa inconveniente

    28/08/2015 02h00

    Morreu na madrugada desta quinta (27) a adolescente Letícia Vieira, 15. Ela havia sido baleada na noite de 13 de agosto, quando homens encapuzados assassinaram 18 pessoas nas cidades de Osasco e Barueri, na Grande São Paulo.

    A conta da chacina chega agora a 19 vítimas; 19 é também o número de investigados pela Corregedoria da Polícia Militar. Mas, duas semanas depois da matança, ainda parece haver poucas evidências contra quase todos os suspeitos; somente um deles está detido.

    Não que as autoridades estejam de braços cruzados. Formulou-se, desde os primeiros momentos, a hipótese de que os crimes tenham sido executados por PMs dispostos a vingar a morte de um colega –entre os suspeitos, 18 são policiais.

    O governador Geraldo Alckmin (PSDB) incluiu o caso no programa de denúncias do Estado, oferecendo recompensa de R$ 50 mil a quem ajudar a identificar e prender os responsáveis pelos ataques.

    Cumpriram-se, além disso, mandados de busca e apreensão com vistas a recolher objetos que em tese podem levar ao esclarecimento dos homicídios. Em tese; na prática, a iniciativa, autorizada pelo Tribunal de Justiça Militar a pedido da Corregedoria da PM, talvez contribua para atravancar as apurações.

    É que as ações da corregedoria se deram à revelia dos membros da força-tarefa encarregada de elucidar os assassinatos em série.

    A partir daí surgem dúvidas inquietantes. As buscas terão alertado suspeitos, em prejuízo da investigação conduzida pelos policiais civis da força-tarefa? Como é possível que esses agentes declarem desconhecer os objetos apreendidos?

    Na interpretação mais detestável, a PM buscaria proteger integrantes da corporação, indivíduos classificados como bandidos em nota divulgada pela instituição.

    Não se descarta, entretanto, que tudo se deva a uma rivalidade entre as duas polícias. Por essa perspectiva, a PM também se empenharia em esclarecer o caso –e gostaria de fazê-lo antes da Polícia Civil.

    Pode ser. Mesmo assim, a atuação militar tem mais a atrapalhar do que a ajudar num processo que, por questões de competência legal, desaguará na Justiça comum.

    Cabe ao governo do Estado dar um basta nessa disputa. Ela serve apenas aos autores da chacina e aos interessados em acobertá-los.

    *editoriais@uol.com.br

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