• Opinião

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    editorial

    Cracolândia sem fim

    02/09/2015 02h00

    Persiste há 20 anos na região central de São Paulo um deplorável espetáculo urbano. Na chamada cracolândia, usuários e traficantes de crack consomem e vendem a droga a céu aberto num fluxo errante, desumanizado e ininterrupto.

    Não há dúvida de que se trata de problema complexo. Nada justifica, contudo, que seguidos governos municipais e estaduais tenham sido incapazes de conceber um plano integrado e abrangente para enfrentar essa mazela social.

    Estampada na primeira página da Folha de sexta-feira (28), a fotografia de uma favela na cracolândia é sinal inequívoco do fracasso do prefeito Fernando Haddad (PT) e do governador Geraldo Alckmin (PSDB) diante desse desafio.

    Utilizado para o comércio e o uso do crack, o tosco conjunto de guarda-sóis, lonas pretas e barracos fora removido em abril, mas, passados quatro meses, voltou a compor o degradado cenário local.

    O episódio deixa claro, mais uma vez, que a cracolândia não admite abordagens simplistas ou episódicas. Ineficiência, descoordenação e falta de visão têm marcado a atuação do poder público na área.

    No que tange à repressão ao tráfico, por exemplo, vêm sendo frustrante o trabalho das polícias ao longo dos anos, seja no combate à venda de entorpecentes, seja na investigação das redes que abastecem traficantes –e o ressurgimento da favela atesta esse fato.

    Ainda que tenham florescido recentemente iniciativas estaduais e municipais para lidar com o usuário, os programas são desarticulados e adotam abordagens antagônicas –um prioriza abstinência e internação, o outro, a redução de danos. Seus coordenadores com frequência trocam farpas e críticas.

    Por fim, a revitalização urbana da cracolândia não passa de uma quimera. A instalação de importantes aparelhos culturais nos últimos anos serviu mais para intensificar os brutais contrastes da cidade de São Paulo do que para levar algum alento àquela região.

    Nenhuma ação governamental terá sucesso sem um esforço integrado nessas três frentes –tudo o que não se vê neste momento.

    Nesta terça-feira (1º), o prefeito Fernando Haddad reconheceu que o poder público precisa avançar mais na cracolândia. Platitudes como essa pouco farão para interromper a degradação –e, dado o estado atual, é até difícil imaginar o que significaria retroceder.

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