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    editorial

    Operação de guerra

    14/09/2015 02h00

    A batalha para reconstruir a Petrobras tornou-se ainda mais dura na semana passada. A decisão da agência de risco Standard & Poor's de retirar o selo de boa pagadora da estatal foi uma péssima notícia. Com isso, o custo de financiamento de sua gigantesca dívida aumentará.

    Não surpreende a imediata reação do mercado: o preço das ações da petrolífera caiu ao nível mais baixo desde novembro de 2004.

    A despeito dos esforços da nova gestão, a empresa está encurralada. De um lado, a queda no preço do petróleo reduz a lucratividade do pré-sal; de outro, a dívida está indexada ao dólar. Desde meados do ano, a disparada da moeda norte-americana fez o passivo crescer R$ 75 bilhões, chegando a cerca de R$ 430 bilhões.

    A conta não fecha. O plano de negócios anunciado em maio se tornou obsoleto. Considerava a cotação do dólar em R$ 3,10 e o barril de petróleo em US$ 60 (estão em R$ 3,88 e US$ 42, respectivamente).

    Com os parâmetros atualizados, a Petrobras não consegue gerar caixa suficiente para cumprir seu programa de investimentos (que já diminuíra 40% após revisão feita meses atrás) e, ao mesmo tempo, pagar os juros e evitar o crescimento explosivo de suas obrigações.

    A continuar a tendência, o mercado se recusará a financiá-la em algum momento, com consequências imprevisíveis.

    O tempo de ações paliativas passou. É necessária uma operação de guerra para evitar um cenário de insolvência –e ela não deve envolver apenas a diretoria. À luz da inoperância do Executivo, é preciso sensibilizar o Congresso para a gravidade da situação.

    A empresa pretende anunciar novos cortes, a fim de economizar cerca de US$ 12 bilhões nos próximos anos. Também estão na mesa a aceleração da venda de ativos e aumento no preço interno da gasolina para auxiliar no caixa.

    Quanto ao governo e ao Congresso, é preciso aceitar ampla revisão nas regras de exploração no pré-sal. A esta altura, todos já enxergam que não é viável manter a obrigatoriedade de a empresa ser operadora única e ainda participar com 30% dos investimentos.

    Mesmo que tudo isso seja feito, não é claro que bastará para equilibrar as finanças. O mercado teme, justificadamente, que a solução tenha de passar por novo aumento de capital, ou seja, emissão de mais ações para trazer dinheiro e reduzir a relação entre dívida e geração de caixa.

    Nesse caso, se não quiser ver sua participação na empresa diminuída, a União terá de colocar mais recursos no negócio. Como fazer isso no atual estado de penúria do Tesouro?

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