• Opinião

    Thursday, 02-May-2024 00:20:29 -03

    Baile de máscaras

    01/10/2015 02h00

    As frases não poderiam ser mais comprometedoras e desmoralizantes: "não penso em recriar a CPMF porque eu acredito que não seria correto"; "a CPMF foi um engodo".

    Foram pronunciadas por Dilma Rousseff (PT), primeiro como candidata, depois como presidente, antes de ser obrigada a enfrentar as dificuldades orçamentárias que seu próprio governo produziu –e decidir recriar o tributo criticado.

    As entrevistas em que a petista condenava a volta da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira foram reproduzidas no programa eleitoral do PSDB, levado ao ar nesta semana.

    Nenhum partido de oposição deixaria passar, sem dúvida, a chance de expor tão cabalmente a hipocrisia de seu adversário.

    As incoerências dilmistas foram exploradas com notável habilidade, aliás, pelos marqueteiros do PSDB: assustadoras máscaras de Carnaval com o rosto da presidente, atrás das quais se revelavam cidadãs decepcionadas, conferiram à mensagem forte impacto visual.

    O PSDB fez bom trabalho de rememoração histórica; pena que tão breve e limitado no tempo.

    Afinal, a CPMF começou a ser cobrada em 1993, com o nome de IPMF, quando ninguém menos do que Fernando Henrique Cardoso ocupava o posto de ministro da Fazenda. Já na presidência, o tucano implantou a contribuição e elevou sua alíquota.

    Do mesmo modo, soa estranho que o PSDB venha a criticar os juros "nas alturas" (14,25% ao ano) quando, na crise que sobreveio à reeleição de FHC, chegaram a 45%.

    Se o roto condena o rasgado nessa farsa que nada tem de cômica, vale dizer que nem por isso foram equivocadas as decisões agora trazidas à memória. Aumentos seletivos de impostos e elevações nos juros podem ser o menor dos males, conforme a gravidade da crise.

    Mas, como a demagogia não tem limites, o PSDB não está sozinho na diatribe contra as medidas impopulares. Se não tem compromisso com o próprio passado, que dizer dos especialistas do PT?

    Nesta semana, a Fundação Perseu Abramo, ligada ao partido, divulgou um documento condenando de alto a baixo a política econômica de Dilma.

    Pode-se dizer que são relativamente coerentes com o que sempre disseram, mas não com o presente que ajudaram a criar, nem com a política conduzida nos primeiros anos lulistas –com a contribuição, lembre-se, de Joaquim Levy, então secretário do Tesouro.

    Não apenas de Dilma: máscaras de todos poderiam ser distribuídas e apresentadas na TV. Para que tanto desperdício em tempos de recessão? Basta, a cada um, que use o próprio rosto.

    editoriais@uol.com.br

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024