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    editorial

    Crimes capitais

    03/10/2015 02h00

    O "Anuário Brasileiro de Segurança Pública" detalhou pela primeira vez os crimes que resultam em mortes nas capitais. O panorama é sombrio: 15.932 vítimas em 2014, quase dois óbitos por hora nas principais cidades do país.

    No levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (organização privada que congrega especialistas na área), não se observa variação muito significativa com relação ao ano anterior. Em 2013 haviam sido 15.804 mortos por violência intencional nas capitais, acréscimo de mero 0,8%.

    Tal evolução acompanha de perto o crescimento populacional, o que manteve inalterada a taxa de 33 por grupo de 100 mil habitantes. Quando se consideram as cifras de cada capital, por outro lado, despontam algumas evidências chocantes.

    Salta aos olhos a insegurança no Nordeste. A lista das dez mais violentas abriga oito de suas nove capitais (Recife é a exceção).

    A campeã, Fortaleza, conta 77,3 mortes por 100 mil. Houve ligeira queda sobre 2013 (78,1/100 mil), quando a capital cearense já se achava na faixa superior ao triplo da média nacional (25,2/100 mil). Em seguida vêm Maceió (69,5), São Luís (69,1) e Natal (65,9).

    São números que contrastam com os de cidades de má reputação em matéria de segurança, como o Rio de Janeiro, que registra 20,2 mortes por 100 mil. Isso para não falar de São Paulo, que ostenta o melhor índice entre as capitais do país (11,4).

    Estudiosos atribuem a violência imperante nas capitais nordestinas ao aumento populacional, que na década passada situou-se no intervalo avantajado de 10% a 24% conforme a cidade, enquanto Rio e São Paulo registravam 8%.

    Debate-se ainda se o aumento recorde da renda domiciliar da região, de 25,5% no período, seria um fator de geração de conflitos.

    O anuário traz ainda dados sobre gastos estaduais com segurança, mas pressupor aí uma causação direta parece arriscado. Há tanto Estados nordestinos que gastam muito por habitante, como Sergipe e Alagoas (acima de R$ 300), quanto aqueles que gastam um décimo disso (Piauí).

    Ademais, as comparações ficam prejudicadas porque alguns governos estaduais, a exemplo de Maranhão e Minas Gerais, computam entre seus gastos as despesas com aposentadorias, e outros, não.

    São muitas as incógnitas mapeadas no anuário. Seu maior mérito é evidenciar a necessidade de aprofundar estudos para entender melhor a etiologia da violência que grassa em nossas grandes cidades.

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