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    editorial

    As ciências do Nobel

    09/10/2015 02h00

    Os prêmios Nobel para ciências naturais de 2015 compõem uma aula inteira sobre a diversidade no universo da pesquisa. Da malária aos neutrinos, cobriu-se uma gama completa de aplicabilidade das investigações experimentais.

    A primeira láurea anunciada, para medicina, contemplou William Campbell e Satoshi Omura, pela descoberta de nova droga (avermectina) contra doenças causadas por vermes nematódeos, e Tu Youyou, por fazer o mesmo para a malária com a artemisinina.

    O tratamento contra malária, que infecta 200 milhões de pessoas por ano, era prejudicado pela eficácia decrescente dos medicamentos cloroquina e quinina. Com a artemisinina, desenvolvida por Tu nos anos 1960, mais de cem mil mortes anuais passaram a ser evitadas só na África.

    Campbell e Omura isolaram a avermectina a partir de culturas bacterianas. Seu remédio ajudou a erradicar moléstias incapacitantes como a filariose linfática e a oncocercose (ou "cegueira dos rios"), que já teve alta incidência entre os índios ianomâmis do Brasil.

    O Nobel de medicina deste ano veio interromper a longa série –iniciada nos anos 1950– de premiações para descobertas no campo molecular e no de mecanismos celulares, envolvidos ou não em doenças. Mas essa vertente foi também contemplada em 2015 com a láurea de química para Tomas Lindahl, Paul Modrich e Aziz Sancar.

    O trio desvendou alguns dos mecanismos que as células empregam para corrigir erros na duplicação de moléculas de DNA. Sem esses "revisores", o código genético sofreria deturpações a cada divisão celular, com consequências desastrosas para o organismo.

    Embora as descobertas de Lindahl, Modrich e Sancar sejam úteis para elucidar e mesmo combater algumas formas de câncer, seu alcance não se compara às de Campbell, Omura e Tu. Trata-se mais de um conhecimento sobre o funcionamento basilar da natureza, que pode ou não gerar inovações práticas, no caso, para a medicina.

    O prêmio de física para Takaaki Kajita e Arthur McDonald está um passo além. Seus experimentos demonstraram que neutrinos –uma das partículas fundamentais da matéria– possuem massa.

    Seria ocioso tentar explicar aqui como a dupla obteve suas conclusões ou o alcance teórico de sua descoberta. Não se exclui que aplicações tecnológicas venham a ser derivadas daí, possibilidade sempre presente em ciência. Sua real importância, contudo, foi assentar mais um tijolo no edifício monumental do conhecimento humano.

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