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    editorial

    Com "i" de infâmia

    21/10/2015 02h00

    Investigação? Nada feito. Tolo quem imaginava que a terceira CPI da Petrobras –Comissão Parlamentar de Inquérito, cabe lembrar– pudesse produzir algo mais que infâmia. A Câmara até aqui se encarregou de provar o contrário.

    O relatório proposto na segunda-feira (19) pelo deputado Luiz Sérgio (PT-RJ) repete, agora como tragédia, a farsa da CPI mista encerrada em dezembro de 2014 e presidida pelo deputado Marco Maia (PT-RS). Aquela de triste memória, com perguntas combinadas entre parlamentares e Petrobras.

    O Senado, por seu turno, havia escolhido a omissão plena. Deixara morrer de inanição, pela mesma época, sua própria CPI.

    De dezembro para cá, a Operação Lava Jato colheu inúmeros novos indícios, provas, delações, denúncias e até condenações. Diante do acervo que não para de crescer e de repugnar a opinião pública, soa ainda mais escarnecedora a peça do petista Luiz Sérgio.

    O relatório, depois de apresentado internamente, até veio a incorporar a sugestão de indiciar 68 pessoas e vários representantes legais –não identificados– de empresas envolvidas no escândalo.

    Para espanto geral, contudo, nenhum nominado ou inominado é político. Isso quando há mais de meia centena deles sob investigação no Supremo Tribunal Federal e no Superior Tribunal de Justiça.

    A alegação do petista para tamanho lapso é risível: a CPI da Câmara decidiu que não atuaria como um Conselho de Ética paralelo. Vale dizer, os membros da comissão amputaram em causa própria o escopo da investigação. E Luiz Sérgio ainda tem o desplante de acusar o Ministério Público e a Polícia Federal de escolher alvos.

    Pois bem, ele e seus cúmplices na CPI inclinam-se a deixar de lado o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara e atual estrela da Lava Jato. Justificam o silêncio obsequioso com o argumento de que a comissão não recebeu prova da existência de suas contas no exterior.

    Supõe-se que jornais e revistas, pelo menos, tenham chegado aos deputados da CPI. Não há como ignorar o fornecimento, pelo Ministério Público da Suíça, de documentação sobre as tais contas.

    É indicação suficiente, segundo a lógica desafiada dia sim e outro também por Cunha, de que o presidente da Casa teria mentido à própria CPI quando negou mantê-las.

    Em lugar de cumprir sua obrigação, a CPI, por seu relator, adotou a velha tática de atacar o mensageiro. No caso, quem se vale da ferramenta jurídica da colaboração premiada para fazer avançar uma investigação que o Congresso, envolvido até o pescoço no escândalo, tudo faz para enterrar.

    O prazo da infame CPI se esgota nesta sexta-feira (23). Seria rematada tolice contar que venha a ser prorrogada para enfim começar a investigar alguma coisa, oito meses depois de instalada.

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