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    editorial

    Os passos do Irã

    22/10/2015 02h00

    Entrou em vigor no último domingo (18) o histórico acordo nuclear assinado em julho pelo Irã e pelo chamado P5+1: as cinco potências do Conselho de Segurança da ONU (EUA, China, Rússia, Reino Unido e França) e a Alemanha.

    As partes haviam definido a data como "o dia da adoção", quando os sete países iniciariam procedimentos específicos para materializar os compromissos.

    O Irã entabulou trâmites a fim de aderir ao Protocolo Adicional do Tratado de Não Proliferação Nuclear, que permitirá inspeções muito mais intrusivas. Não é questão de somenos; o Brasil, por exemplo, até hoje não acolheu esse protocolo.

    Teerã também está prestes a desmontar a maior parte das instalações nas quais pesquisa e desenvolve material nuclear com possível uso militar, como urânio e plutônio.

    A União Europeia encetou alterações em seu aparato jurídico com vistas a levantar as sanções econômicas que estrangulam o Irã. Nos EUA, onde o acordo suscitou aversão em parte do Congresso e da sociedade, o presidente Barack Obama solicitou medidas que permitam a normalização dos negócios com empresas iranianas em setores como petróleo e aviação.

    A rede de sanções, porém, será mantida até as potências chancelarem avanços do lado iraniano. Relatórios da AIEA, a agência nuclear da ONU, serão o principal parâmetro. O próximo estudo, esperado para dezembro, ajudará a definir o "dia da implementação", quando Teerã começará a sentir algum alívio –talvez no primeiro semestre de 2016.

    O caminho, entretanto, será longo até o "dia da transição", que selará a remoção das últimas sanções (marcado para 2023), e o "dia da rescisão" (2025), data de fechamento do dossiê iraniano.

    O processo exigirá paciência e boa vontade, itens incertos no médio prazo. Um dos riscos está na eleição presidencial dos EUA –os candidatos com chances de vencer não se entusiasmam com o acordo.

    Em Teerã, os ultraconservadores condenam o pacto, apesar de ele ter o respaldo do envelhecido líder supremo, aiatolá Ali Khamenei.

    Há, ainda, outras variáveis. O que fariam as potências ocidentais se Israel sofresse ataque pesado do Hizbullah, temível arma a serviço de Teerã no Levante? Como o Irã reagiria à eventual queda do ditador da Síria, Bashar al-Assad, seu maior aliado regional?

    Apesar das inevitáveis tensões e desajustes, o acordo constitui o melhor caminho. A alternativa é a confrontação, que traria graves prejuízos econômicos, políticos e sociais para todos os envolvidos.

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