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    editorial

    Cacau mais doce

    09/11/2015 02h00

    Mundialmente conhecida graças aos romances de Jorge Amado ("Terras do Sem-Fim" e "Gabriela, Cravo e Canela", entre outros), a cultura do cacau da Bahia esteve ameaçada de subsistir apenas como um ente de ficção. A produção da amêndoa, que chegou a representar 4,2% das exportações brasileiras na Primeira Guerra Mundial, entrou em colapso nos anos 1990.

    Enfermidade originária da região amazônica, a vassoura de bruxa devastou as plantações baianas. Os números são eloquentes: as 397.362 toneladas obtidas na safra de 1986/87 reduziram-se para 96.039 toneladas em 1999/00.

    De grande exportador, o Brasil regrediu à condição de importador de cacau. Muitos produtores rurais foram à falência, e os desempregados encheram as periferias de Ilhéus e Itabuna. Plantações viraram pastagens, e a população de alguns municípios encolheu.

    As tentativas de combater a doença com fungicidas não tiveram sucesso. A recuperação só começou após a substituição das árvores afetadas por clones e variedades mais resistentes, num notável esforço de pesquisa aplicada. Demorou, mas em 2012/13 a Bahia colheu 180.527 toneladas.

    Agora, no início deste mês, o porto de Ilhéus voltou a exportar amêndoas em larga escala: 100 mil sacas, ou 6.600 toneladas. É uma notícia animadora, pois isso não acontecia desde 1999.

    Contudo, não convém reviver um passado que a doença sepultou. Antes, a Bahia produzia uma matéria-prima de baixa qualidade, vendida a preços ínfimos.

    Isso tem mudado. Os produtores brasileiros perceberam a importância de investir em frutos melhores, com aromas mais intensos, e na fabricação de chocolates finos. Vale a pena: uma tonelada de cacau fino pode alcançar US$ 8.000; o comum sai por um quarto desse valor.

    Os produtores, por isso, começaram a despender mais nos tratos culturais e, sobretudo, reforçaram a qualificação dos empregados.

    O custo da força de trabalho no Brasil é hoje bem mais elevado do que nos países competidores da África. Em compensação, o preço médio do produto nacional também é maior. Um bom sinal.

    A civilização do cacau dos romances de Jorge Amado –conhecido na Alemanha como um "Balzac da selva"– desapareceu.

    Os coronéis que comandavam centenas de trabalhadores não qualificados cederam lugar a pequenos produtores, preocupados em atender as expectativas de um mercado exigente. O sul da Bahia amargou anos sombrios, mas hoje seu cacau é mais doce.

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