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    editorial

    Estado de caos e terror

    25/11/2015 02h00

    Desde os atentados de Paris, a França pediu às potências envolvidas na guerra civil da Síria que se unam contra a milícia Estado Islâmico. A derrubada do ditador Bashar al-Assad ficaria para depois.

    Os Estados Unidos, porém, sinalizaram nesta semana que não abrem mão de derrubar Assad, enquanto dois aliados do ditador, a Rússia e o Irã, se reuniram para reafirmar sua posição no conflito.

    O desconcerto das principais forças externas envolvidas nas hostilidades foi ressaltado nesta terça-feira (24) pela derrubada de um caça russo pela aviação turca.

    Por complexa que seja a política mundial, tal coreografia diplomática esconde uma desordem mais profunda. A guerra necessária contra o Estado Islâmico é parte do problema, não a sua solução.

    A região está convulsionada pelo solapamento da precária ordem estabelecida nas primeiras décadas do século 20 pelas potências ocidentais, baseada em governos autoritários e na repressão a grupos divergentes ou minoritários.

    Tal crise começou com ações catastróficas dos EUA, sobretudo nas guerras do Golfo, e se aprofundou com a invasão do Iraque em 2003.

    O poder iraquiano, há séculos da minoria sunita, foi entregue a um governo xiita também corrupto e feroz. O norte curdo se tornou quase independente. Seguiu-se guerra civil entre sunitas e xiitas, que tripartiu de vez o país. O Estado Islâmico, entre outros fatores imediatos, derivou da revolta sunita.

    A Primavera Árabe na Síria foi reprimida com mãos de ferro por Assad, que acabou por detonar outro confuso conflito civil, um verdadeiro caos do qual se valeu o Estado Islâmico para criar seu regime de terror. A facção se alimenta dessa convulsão e já começa a fazer aliados na Jordânia e no Líbano.

    Uma guerra total contra a milícia terrorista aumentaria a escalada da morte; sabe-se que os eleitores dos países mais desenvolvidos mostram-se cada vez menos tolerantes a baixas em conflitos. No mundo muçulmano, os massacres e uma eventual ocupação ocidental só multiplicariam o ódio.

    Ainda que fosse possível destruir o grupo, a desordem na qual vegeta deve permanecer: guerras no Iraque e Síria, conflitos latentes em outros países, o fim dos Estados criados há quase um século.

    O encaminhamento do conflito depende de planos para uma nova ordem política no Oriente Médio; ao menos de um programa para atenuar o caos criado pela política americana desde os anos 1990.

    Tal programa, porém, esbarra nas divergências das potências mundiais –e sua previsível demora em chegar a um acordo significa, lamentavelmente, que o drama continuará ainda por muito tempo.

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