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    EDITORIAL

    O bom bocado

    28/11/2015 02h00

    Em uma reviravolta surpreendente, o Partido Socialista voltou ao comando de Portugal quatro anos depois da bancarrota de 2011, que obrigou o país a pedir socorro à União Europeia e ao FMI.

    Nas eleições daquele ano, a coalizão conservadora liderada por Pedro Passos Coelho derrotou os socialistas, que estavam no poder desde 2005. O novo governo adotou rigoroso programa de austeridade: elevou impostos, cortou subsídios, demitiu funcionários, suspendeu feriados; privatizou os correios, as empresas de energia, os aeroportos, os seguros.

    O PIB português caiu 4% em 2012 e 1,6% em 2013, mas o receituário amargo permitiu que a economia voltasse a crescer 0,9% em 2014.

    Neste ano, projeta-se expansão de 1,7%, o deficit público ficará abaixo de 3% e as exportações devem aumentar 4,8%. O desemprego recuou de 17,5%, em janeiro de 2013, para 13,7%, dois anos depois.

    Os tempos sombrios, porém, cobraram seu preço nas urnas. Em outubro, a aliança do primeiro-ministro Passos Coelho perdeu a maioria no Legislativo. Como ainda assim continuou sendo o bloco mais numeroso, com 107 dos 230 assentos da Assembleia da República, o presidente de Portugal, Aníbal Cavaco Silva, reconduziu o partido à chefia do governo.

    O novo ministério, contudo, durou meros 12 dias. Pela primeira vez desde a Revolução dos Cravos, as legendas de esquerda esqueceram suas divergências e se uniram. Por 123 votos a 107, aprovaram no dia 10 de novembro uma moção de rejeição ao governo de Passos Coelho.

    Sem opção, o presidente viu-se obrigado a nomear o socialista Antônio Costa como primeiro-ministro. Controlando 37,4% da Assembleia e dividido internamente, seu partido se manterá no poder apenas se cumprir a promessa de relaxar o programa de austeridade.

    Isso incluiria a concessão de aumentos salariais, a suspensão das privatizações e a redução da jornada de trabalho. Apesar da fragilidade parlamentar do novo governo, o plano é até factível com a economia em expansão.

    Em Portugal, corre a máxima "a direita poupa, a esquerda gasta". Talvez seja injusta com alguns líderes, mas decerto reflete o comportamento partidário dos últimos anos.

    O governo que implementou as medidas mais duras foi, paradoxalmente, punido por seu sucesso. A perspectiva de uma firme recuperação da economia levou boa parte do eleitorado a acreditar que a hora da austeridade já passou –e o país voltou às compras.

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