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    Marta Suplicy

    São Paulo, investimento negativo

    08/12/2015 02h00

    A propósito do artigo do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, publicado nesta Folha em 26/11, onde se noticia que "a cidade de São Paulo recebeu um inédito grau de investimento da agência de risco Fitch", há que ser considerado que a classificação de risco de nossa cidade no longo prazo, em escala global, continua negativa (BBB-).

    A classificação de curto prazo foi reconsiderada em função da diminuição da dívida do município para com a União de R$ 63 bilhões para R$ 38 bilhões, resultado fruto de renegociação aprovada pelo Congresso Nacional, por meio de projeto de lei do qual fui relatora.

    Essa é a verdadeira e principal razão para o feito anunciado, segundo o próprio comunicado da agência Fitch em 12 de outubro deste ano.

    Haddad tenta se passar como bom administrador e usa a melhoria da capacidade de endividamento de São Paulo, conquista de todos nós, como se obra sua fosse. O seu governo está acabando e até agora muito pouco fez pela cidade.

    Em três anos à frente da prefeitura, se Haddad tivesse gerido bem as finanças e prioridades, os paulistanos seriam capazes de indicar algum feito relevante de sua administração.

    Onde estão as obras e os benefícios para a maioria da população? Por que não foram construídos os novos e prometidos CEUs (Centros Educacionais Unificados)? O trânsito melhorou? Você fica menos tempo dentro do seu carro ou do transporte público? Qual é a razão da atual deterioração na saúde?

    E os hospitais prometidos? E a guarda municipal? E os córregos que permanecem a céu aberto, levando doença para milhares de famílias que vivem debruçadas sobre eles?

    Avançamos na solução das moradias e enchentes? E a legalização fundiária? E o que foi feito pela preservação do meio ambiente e do ar que respiramos?

    Continuamos sem solução para a cracolândia e seus usuários que hoje se espalham pela cidade toda. O centro está abandonado. Os sem-teto permanecem nas ruas e debaixo de pontes como nunca se viu antes, assim como a buraqueira nas calçadas e nas ruas. Sem falar das árvores apodrecidas que caem sem nenhuma providência.

    Há de se notar que a ilustração que acompanha o referido artigo nesta Folha estampa uma bicicleta estilizada. Essa é a marca do prefeito. Ciclovias e "ciclotintas" que, por mal planejadas e sem critério, acabaram por dividir a cidade, colocando em campos opostos os interesses de ciclistas, motoristas, pedestres e comerciantes. Uma pena.

    E a polêmica diminuição da velocidade nas marginais? Haddad não governa para todos, não tem um projeto capaz de unir São Paulo em torno do desenvolvimento.

    Onde toca gera confusão, sem conseguir ouvir ou negociar os diferentes interesses da cidade e da população, como ocorreu no caso do Plano Diretor Estratégico e agora no zoneamento.

    O que vemos é uma São Paulo abandonada, com péssimo serviço público, mal iluminada, cheia de buracos e suja. As subprefeituras, esvaziadas, nem zeladoria têm.

    Uma verdadeira indústria das multas com desvio de finalidade do que é arrecadado, segundo o próprio Ministério Público, armou-se na cidade.

    Em suma, uma administração que penaliza todos os segmentos, e as classes sociais e as regiões. Temos um prefeito que continua com sua cabeça, ausente e que não ouve, na academia. Muitas vezes chamado de "autista" por seus próprios "companheiros" de partido.

    Ao tentar apresentar números frios de uma reclassificação de risco da dívida de São Paulo, que não foi fruto de seu trabalho, nem tampouco mérito seu, o prefeito deixa transparecer a sua alma, própria de um burocrata distante do povo e das reivindicações populares.

    Demonstra, também, ser um péssimo gestor, já que nos três anos de seu governo atrasou o desenvolvimento de São Paulo em uma década.

    Do jeito que vai, é forte candidato à galeria dos piores prefeitos da cidade.

    MARTA SUPLICY é senadora (PMDB-SP). Foi prefeita de São Paulo pelo PT (2001-2004)

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