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    editorial

    Fora do jogo

    08/12/2015 02h00

    Quando a economia muda de direção, há variáveis que logo se alteram, como o tamanho das jornadas de trabalho e o pagamento de horas extras, e outras que respondem de forma mais lenta, como o emprego e o mercado de crédito. Tendências negativas nesses últimos indicadores, por isso mesmo, costumam ser duradouras.

    Daí por que são preocupantes os dados mais recentes da Associação Nacional dos Birôs de Crédito, que congrega empresas do setor de crédito e financiamento.

    Segundo a entidade, havia, em outubro, 59 milhões de consumidores impedidos de obter novos créditos por não estarem em dia com suas obrigações. Trata-se de alta de 1,8 milhão em dois meses.

    O valor em atraso (de 30 a 60 dias) monta a R$ 255 bilhões e inclui dívidas variadas, de financiamentos a débitos com varejistas, passando por contas de luz, água etc.

    Causa consternação conhecer a principal razão citada pelos consumidores para deixar de pagar as dívidas: a perda de emprego, que tem forte correlação com a capacidade de pagamento das famílias.

    Até há pouco, as empresas evitavam demitir, pois tendem a perder investimentos em treinamento e incorrer em custos trabalhistas. Dado o colapso da atividade econômica, porém, jogaram a toalha.

    A partir do segundo trimestre deste ano, o fechamento de postos formais de trabalho escalou para cerca de 170 mil ao mês, em média. Desde setembro do ano passado, o desemprego nacional subiu de 6,8% para 8,9%.

    O impacto negativo da disponibilidade de crédito é imediato. O indivíduo não só perde a capacidade de pagamento mas também enfrenta grande dificuldade para obter novos recursos, pois não possui carteira de trabalho assinada.

    Tudo se passa como se deixasse de integrar o universo de pessoas elegíveis para crédito. Está fora do jogo da economia de mercado, por assim dizer.

    Tem-se aí outro aspecto perverso da recessão, que se soma às muitas evidências de reversão de padrões positivos da última década –o aumento da informalidade, o retorno de jovens ao mercado de trabalho e a alta do desemprego.

    Com tudo isso, não será espantoso que a desigualdade volte a subir.

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