• Opinião

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    BERNARDO PAZ

    Saída para o futuro

    11/12/2015 02h00

    A humanidade se encontra diante de um cenário que pode ser considerado catastrófico. Os problemas de maior visibilidade não foram criados recentemente.

    Os dilemas humanos de hoje são facilmente interligados à Revolução Industrial, ao modelo de colonização europeia e à forma de produção e consumo das sociedades, perpetuada nos hábitos mais simples de cada um de nós.

    Nestes dias, a atenção do mundo repousa sobre Paris, na COP21 (Conferência do Clima). Lideranças estão propondo alternativas de produção de energia limpa e também lutando para conseguir a adesão efetiva das potências mundiais que, por meio de seus modelos econômicos, colocam em risco a viabilidade futura da vida no planeta.

    Uma pergunta precisa ser feita: serão esses acordos, se realizados, capazes de parar o aumento da temperatura da terra? Apenas outro modo de vida poderá alterar o cenário de tragédias a que assistimos e, muitas vezes, vivemos.

    A vida nas grandes cidades se aproxima do insuportável e as pessoas não aguentam mais perder tanto tempo paradas no trânsito. A arquitetura das metrópoles sufoca a todos. A produção de gases poluentes nos aglomerados urbanos é crescente. Nenhum Estado conseguirá pagar a conta desse modelo de vida. A Europa, que antes mostrava caminhos, já não consegue se reinventar. Perderam a criatividade.

    É urgente entender que a vida, o planeta e a natureza foram feitos para os seres humanos desfrutarem. Isso não significa que a natureza seja intocável. Defendo o desenvolvimento sustentável e com responsabilidade. A natureza tem que ser usada a favor do homem e temos que manejá-la para o nosso bem, para o bem de nossos filhos.

    A vida pós-contemporânea passa pelo contato com a cultura e a natureza, que despertam a curiosidade das pessoas e as estimulam a aprender cada vez mais. A superação das diferenças entre raças ou classe social se dará em territórios menores de convivência entre os diversos.

    Para mim, a beleza traduzida na natureza é um dos principais vetores da dignidade, pois ela pode moldar o mundo.

    Se o mundo gira em torno de informação e se a tecnologia interliga o mundo, então podemos estar no Brasil e trabalhar com pessoas no mundo inteiro. E algo fundamental: não é possível criar sonhos dentro de uma megalópole.

    No Instituto Inhotim, estamos tentando criar e mostrar ao mundo um exemplo de vida pós-contemporânea. O acesso à cultura e a uma plataforma de educação não formal, que usa a arte e a natureza como bases para produção de conhecimento, fará a mudança local com reflexos globais.

    Desejo ver avanços a partir da COP21, claro, e lá estamos, junto ao BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), apresentando um projeto de cooperação técnica que pode ser uma semente a ser replicada no mundo.

    Para o futuro da humanidade, acredito na construção de pequenas vilas, com pessoas aprendendo a dividir os recursos naturais. A vida futura não permite grandes fortunas, mas permite um grande conforto. É uma questão de escolha.

    Acredito na potência da tecnologia para diminuir as distâncias entre os homens e aumentar a difusão de conhecimento. E, acima de tudo, acredito no belo, no encontro da arte com a natureza para iluminar a vida pós-contemporânea.

    BERNARDO PAZ é empresário, idealizador do Instituto Inhotim e presidente do Conselho de Administração do Instituto

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